segunda-feira, 26 de abril de 2010

Mais além

Gosto do surrealismo das coisas, da fantasia das palavras e do colorido vivo das cores. Admiro a beleza distante do teu olhar que me leva e me trás; me perturba e me trás paz; que atinge o meu ponto mais fraco e desvenda todos os meus segredos num sorriso amarelo. Lacrimejo, mas mantenho-me em pé, com a cabeça erguida e sempre seguindo os passos do meu coração que mesmo errando do jeito que erra, está sempre ao alcance da escolha certa. Aquela voz do meu subconsciente ainda me incomoda e faz dos meus tímpanos os gritos que desembocam um mar de segredos. Os meus segredos que nunca foram revelados, nem serão. São eles que fazem de mim o que sou, até que eu decida voar, pegar carona com os pássaros que cantarolam e me acordam todas as manhãs, anunciando um novo dia; voarei para longe dessa minha vida; cicatrizarei todas as minhas feridas que ainda não foram fechadas pelo tempo; me tornarei um dos meus segredos e o melhor que há em mim, o melhor que eu posso fazer. Voarei em direção ao nada, sem rumo, sem ter aonde chegar e sem ninguém a minha espera. Voarei sozinha, apenas com a certeza de que irei encontrar, em algum momento, alguém que coloque novamente o sorriso em meu rosto e desperte de mim o maior de todos os meus segredos: o desconhecido.

domingo, 25 de abril de 2010

(...)

Às vezes eu sento sozinha no sofá de casa, pego um copo de vinho ou qualquer líquido que molhe a minha boca seca e fico pensando na vida, na forma como o tempo correu sobre mim, na forma como as coisas andam acontecendo. Aí eu fico me questionando se era realmente isso que eu queria, se eu estou mesmo bem e feliz ou se esse meu "feliz" é só uma máscara para tentar superar uma coisa que eu não sei se seria capaz de superar sozinha. Penso sem pausas na minha vida, no que eu irei me tornar, no meu futuro, nos possíveis próximos acontecimentos e nas hipóteses de várias situações. E é aí que eu fico mais indignada comigo mesmo, porque pensar demais sempre me faz deixar de acreditar na beleza das coisas à minha volta, ou talvez eu realmente tenha chegado na conclusão de que tudo não passa de uma fantasia que me alucina e me leva, me trás e me pega de jeito. Ou sei lá, pode ser uma espécie de pensamento negativo, mas eu nunca fui assim. Enfim... vou lá dormir e tentar descansar. Às vezes eu preciso ficar acordada, me ocupando até sentir vontade de dormir para depois chegar na minha cama, deitar e só acordar no outro dia. Porque pensar me faz desistir. (...)

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O vento

O vento que passa pelos teus cabelos, sem que percebas, é o meu "eu" em forma de estado da natureza. É como se fosse uma força maior do meu pensamento que possui um enorme reticências de ti, das coisas que me falaste, do teu olhar, do teu sorriso, do teu beijo. Sei que nem vai ler isso, nem se quer pensas como eu, mas eu penso em ti ainda. Não há duvidas de que irei ver-te novamente, pois se as nossas linhas tortas se cruzaram por um, dois ou três dias, a chance delas se cruzarem de novo é máxima, me deixando assim em estado de loucura. Gostei do teu jeito, gostei de ti. Por enquanto, penso que teremos todo o tempo do mundo para começar esse romance. Não sei, talvez eu esteja inventando este amor para me livrar do meu passado, mas para ser bem sincera, não me vejo mais feliz como estou agora. Completa, não sei. Me sinto pura. (...)

The rise and fall of ME

Não tenho uma liberdade de expressão sobre eu mesma. Gosto de deixar as coisas subentendidas, se quiseres saber a verdade de mim, procures. Tente me desvendar e verás. Talvez te abalas, te surpreendas. Talvez goste, eu não sei. O problema é que as pessoas não tem o mínimo interesse pela coisa pura, pelo amor, hoje em dia, mas sim pelo melhor caminho, pela facilidade, pelas escolhas mais fáceis. Não sou assim. Sou do tipo que arrisca, erra, cai, tira a lição, arrisca, erra, cai, tira a lição... até que algum dia algo dê certo pra mim e eu, finalmente, acerte. Não importa quantas vezes eu cair, irei sempre arriscar. Não sou o que é difícil de encontrar, talvez eu te encontre por aí, ou talvez as nossas linhas não sejam tortas o suficientes para se cruzar. De repente, não sou o que tu procuras, mas tu acabou por me encontrar e assim nos unimos. Ou, no entanto, posso ser justamente o que tu procuras, mas que nunca irá me encontrar. Talvez eu esteja falando muito mais do que eu deveria falar. Talvez eu não devesse dizer mais nada e acabar por aqui o que nem começou.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Cair

Chorei quando não devia ter demonstrado decaída, dor e até raiva, mas meu coração falou por mim mais uma vez. Eu sempre soube que eu era bem mais de sentir do que ser. Talvez ainda não tenha me acostumado com o fato de que não há mais nada que me prenda na tua vida, nem tu na minha. Os laços se cortaram, mas foi porque eu puxei. Pensei que seria difícil de esquecer alguém que eu convivi boa parte da minha juventude, ou quase adolescência, mais uma infância perdida. Só que agora que eu fui perceber que eu chorei sim, mas não foi por ti. Foi por um outro alguém que aos poucos eu havia criado um laço. Um laço que não chegou a dar um nó, mas que se segurava nele, como se houvesse alguma coisa nele que me puxasse pro seu lado e me prendia, não me deixava sair e eu ficava sem reação e eu não sabia o que fazer e eu nunca soube que seria assim e eu continuo falando essas coisas incoerentes e que agora não fazem sentido nem na tua e nem na minha vida. É que é desorientadamente que estou escrevendo estas tão poucas palavras, mas palavras quê.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Diário I

Vou dedicar um pedaço desse Blog para eu poder desabafar um pouco.

Queria compartilhar com aqueles que lêem o que eu escrevo, a minha felicidade em finalmente poder dizer: I CAN FLY! Vocês não tem ideia do quão boa é a sensação de liberdade, de já não se sentir mais presa a um passado, a alguém, a objetos, enfim. Fazia tempos que eu não sentia essa sensação de ter sido desacorrentada, cheia de arranhões, mas bem, viva. Eu só queria poder dar um grito agora, lá fora, na chuva, nessa tempestade, onde as águas correriam pelo meu corpo limpando todas as mágoas, todas as dores e sofrimentos em mim acumulados. E eu o farei. Agora.

Ouvirei aquelas canções podendo olhar pra trás e dizer "essa música já foi trilha sonora da minha vida", pois agora EU TE ESQUECI! Eu sei disso, eu sinto isso! Nós sempre sabemos quando uma coisa se acaba, e terminou. Tudo terminou em mim! Já não sinto nem se quer um pingo de amor no meu coração. E isso sendo bom ou não, eu estou feliz. Estou bem comigo mesma. Obrigada, Meu Deus, pela força que me deste e a ajuda para me ensinar a esquecê-lo.

Já não me importo mais com você. Quem se importa?

Nada

Dos meus olhos que te amava, via-te como uma beleza encantadora, repleta de qualidades que até teus defeitos viravam bonitos perante a forma como eu te enxergava. Enxergava. Já não te vejo mais com uma beleza encantadora, mas sim como mais uma pessoa insignificante na minha vida. Até sorrio com as tuas atitudes que fazem de tudo para chamar a minha atenção, mas nem isso consegues fazer. Foi bom te provocar, foi bom ter feito tudo errado como eu o fiz. Foi bom porque assim eu pude realmente ver quem você é, e agora, ah, agora eu não me importo mais com as tuas atitudes desesperadas e tuas ações do tipo eu-estou-fazendo-drama. Já não quero mais saber da tua vida e qualquer lugar é limpo, desde que não tenha a tua presença. Me enoja olhar pros teus olhos. Me enoja falar do teu nome e me lembrar de ti. Me enoja a mim mesma só de pensar que eu já beijei a tua boca. Agora sim eu pude perceber que realmente, definitivamente, o amor é sim cego. Tão cego que eu fiquei cega até quando terminamos, quando ainda restava um pouquinho de carinho que logo, mediante tuas ações, transformou-se em uma simples pena. Admirava-te. Já não admiro mais. Acho que tu já podes agora deixar de ser chamado de "menino puro ou frágil", pois pra ti, a definição perfeita ainda não foi achada. Aliás, o "nada" ainda não tem tradução, não é mesmo?

domingo, 18 de abril de 2010

Pronto, eu desisti

Aos poucos eu vou desistindo de tudo. Dos meus estudos, da minha escola, dos meus amigos colegas de classe. Das histórias que eu poderia ter para contar, mas não vou, porque até delas irei desistir. Das minhas dores, das minhas lágrimas. Do meu passado, do meu presente e principalmente do meu futuro, um futuro que provavelmente não irei ter. Dos meus sonhos que não terei a capacidade de realizar, das minhas conquistas que só eu consegui enxergar até hoje, porque nada nunca foi o bastante pra ninguém, nem pra ti. Das palavras, das canções, do violão, da música, das traduções, das letras, de cada sílaba. Dos objetos, do computador, dos meus meios de comunicação, das coisas materiais. Dos meus amigos: primeiro os menos íntimos e depois os mais chegados. Dos meus primos, avós, tios e tias. Das junções, festas, união em família. Da minha irmã, meu irmão e dos meus pais. Dos livros que eu andava debaixo do braço, das cartas que eu escrevia e que nunca chegaram até você. Das publicações no Jornal, dos meus professores e funcionários prestativos da minha escola. Da sociedade em si, dos beijos na boca e abraços. De Fresno e Avril Lavigne, Beeshop e Abril. Das minhas festas de aniversário, do verão, inverno, primavera e outono. Das minhas atitudes, acertos e erros, mais erros, claro. Da minha vontade louca de arriscar, de me dar um tiro no escuro. Das minhas mudanças. Dos meus ideais, das coisas que eu prezo. Da minha saúde, do meu consciente e mais inconsciente. Aos poucos eu vou desistindo de tudo. De mim. Vou levar um tempo pra esquecer das minhas memórias, esquecer de quem eu sou. Vai demorar pra acreditar no que eu quero. Talvez não demore tanto assim. Quem disse que eu preciso desistir de tudo isso, um por cada vez? Prefiro terminar com tudo de uma vez por todas. E assim será. Adeus, doces palavras!

Só restou o vazio

Não sei o que mais dói em mim agora: se é a dor de não sentir nada, ou a dor de sentir abundantemente, exageradamente, estupidamente. Com tanta coisa pra eu sentir, eis que não sinto nada, nem um pulo no coração ao te ver, nem nervosismo ou meus braços estremecendo mediante a tua presença. Talvez os sintomas sejam claros. O diagnóstico já saiu a muito tempo e eu já recebi alta. Estou livre. Estou solta. Era isso que eu queria? Não sei responder essa pergunta. Não sei responder as coisas que eu mesma me questiono. Eu nunca soube me entender, e a cada dia que passa chego na conclusão de que nunca, em hipótese alguma, irei me entender e irão me entender. Eu sempre clico na mesma tecla. Sempre faço as mesmas coisas, sempre exagero nas minhas atitudes. E isso tudo porque eu gosto é de sentir, eu gosto é de arriscar. Talvez eu tenha ido longe demais, ou talvez não. Eu não sei. Talvez eu tenha tido tanta ânsia de arriscar que acabei por me dar um tiro no escuro, e acertei. Mas eu não morri, não. Estou viva. Só cai da cadeira, só perdi um pouco de sangue. A partir de hoje irei me levantar, erguer a minha cabeça. Confiar em mim mesma. Acreditar, sonhar. Sorrir. A vida ainda não acabou pra mim, nem pra ti, nem pra ninguém. A única pessoa que foi atingida nessa história fui eu. E se for pra eu me levantar sozinha, sem ninguém ao meu lado, eu o farei. Porque sei que tudo passa. A dor de não sentir nada vai passar.... Vai passar.

E só restou o vazio; até a dor que eu sentia sumiu.

sábado, 17 de abril de 2010

A ti, meu grande e melhor amigo

Bastou troca de olhares para nos aproximarmos. Assim, tudo tão simples, mas tão intenso. Diálogos que não queriam ter um fim. Descobertas e segredos tão bem guardados por ti. Foste e és o meu porto seguro, sabias? Aos poucos fui percebendo o tanto que és de mim, o tanto que tu tem de mim. As tantas palavras que existem ainda não definem o que tu és no meu vocabulário. No meu coração. Dentro de mim. Ah, meu grande amigo... a vida é uma ironia. Existem pessoas más e pessoas boas, mas geralmente as más se sobressaem. Tem tanta gente que tem inveja da nossa amizade, tanta gente que gostaria de ter esse imenso laço que temos hoje. Um laço bem atado, quase-nó. Só uma força mais além da vida para separar o que a gente construiu, o que tu se formou dentro de mim. Sabes, és meu melhor amigo. Não porque estás sempre ao meu lado, nem porque me aconselha, me ajuda, me levanta. Mas justamente por existir. Existir dentro de mim do jeito que tu é. Por me fazer amar cada traço de ti. Cada rabisco que existe dentro do teu coração. Se existes em mim, existe dentro do meu coração, dentro do meu pensamento sem fim. A vida, as coisas, as pessoas, nada poderá nos separar. Na-da. Quero que cada sílaba aqui escrita toque o teu coração e abra a tua mente para um pensamento mais profundo: tu existe em mim. Quero que minhas palavras entrem por um ouvido, mas nunca saiam pelo outro. Quero que nunca esqueças que eu também existo em ti, que estou presente no teu caminho. Até que a morte ou a simples ironia da vida nos separe. Aqui. Hoje e sempre. A ti, meu grande e melhor amigo, escrevo-te este simples texto, estas simples palavras do fundo do meu coração, que ocupa uma grande metade de ti.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

À beira do Mar Aberto - Caio Fernando Abreu

(...) e de novo me vens e me contas do mar aberto das costas de tua terra, do vento gelado soprando desde o pólo, nos invernos, sem nenhuma baía, nenhuma gaivota ou albatroz sobrevoando rasante o cinza das águas para mergulhar, como certa vez, em algum lugar, rápido iscando um peixe no bico agudo, mas essas outras águas que lembro eram claras verdes, havia sol e acho que também um reflexo de prata no bico da ave no momento justo do mergulho, nessas águas de que me falas quando me tomas assim e me levas para histórias ou caminhadas sem fim não há verde nem é claro, o sol não transpõe as nuvens, e te imagino então parado sozinho entre a faixa interminável de areia, o vento que bate em teu rosto, as mãos com os dedos roxos de frio enfiadas até o fundo dos bolos, o vento e novamente o vento que bate em teu rosto, esse mesmo que não me olha agora, raramente, teu olho bate em mim e logo se desvia, como se em minhas pupilas houvesse uma faca, uma pedra, um gume, teu rosto mais nu que sempre, à beira-mar, com esse vento a bater e a revolver teus cabelos e pensamentos, e eu sem saber que me envolve agora quando teu olho outra vez escorrega para fora e longe do meu, entre tua testa larga de onde às vezes costuma afastar os cabelos com ambas as mãos, numa mistura de preguiça e sensualidade expostas, e quando teu olho se afasta assim, não sei para onde, talvez para esse mesmo lugar onde te encontravas ontem, à beira do mar aberto, onde não penetro, como não te penetro agora, mas é quando a pedra ou faca no fundo do meu olho afasta o teu é que te olho detalhado, e nunca saberás quanto e como já conheço cada milímetro da tua pele, esses vincos cada vez mais fundos circundando as sobrancelhas que se erguem súbitas para depois diluírem-se em pêlos cada vez mais ralos, até a região onde os raspas quase sempre mal, e conheço também esses tocos de pêlos duros e secretos, escondidos sob teu lábio inferior, levemente partido ao meio, e tão dissimulado te espio que nunca me percebes assim, te devassando como se através de cada fiapo, de cada poro, pudesse chegar a esse mais de dentro que me escondes sutil, obstinado, através de histórias como essa, do mar, das velhas tias, das iniciações, dos exílios, das prisões, das cicatrizes, e em tudo que me contas pensando, suponho, que é teu jeito de dar-se a mim, percebo farpado que te escondes ainda mais, como se te contando a mim negasses quase deliberado a possibilidade de te descobrir atrás e além de tudo que me dizes, é por isso que me escondo dessas tuas histórias que me enredam cada vez mais no que não és tu, mas o que foste, tento fugir para longe e a cada noite, como uma criança temendo pecados, punições de anjos vingadores com espadas flamejantes, prometo a mim mesmo nunca mais ouvir, nunca mais ter a ti tão mentirosamente próximo, e escapo brusco para que percebas que mal suporto a tua presença, veneno, veneno, às vezes digo coisas ácidas e de alguma forma quero te fazer compreender que não é assim, que tenho um medo cada vez maior do que vou sentindo em todos esses meses, e não se soluciona, mas volto e volto sempre, então me invades outra vez com o mesmo jogo e embora supondo conhecer as regras, me deixo tomar por inteiro por tuas estranhas liturgias, a compactuar com teus medos que não decifro, a aceitá-los como um cão faminto aceita um osso descarnado, essas migalhas que me vais jogando entre as palavras e os pratos vazios, torno sempre a voltar, talvez penalizado do teu olho que não se debruça sobre nenhum outro assim como sobre o meu, temendo a faca, a pedra, o gume das tuas histórias longas, das tuas memórias tristes, cheias de corredores mofados, donzelas velha trancadas em seus quartos, balcões abertos sobre ruazinhas onde moças solteiras secam o cabelo, exibindo os peitos, tornarei sempre a voltar porque preciso desse osso, dos farelos que me têm alimentado ao longo deste tempo e choro sempre quando os dias terminam porque sei que não nos procuraremos pelas noites, quando o meu perigo aumenta e sem me conter te assaltaria feito um vampiro faminto para te sangrar enquanto meus dentes penetrando nas veias de tua garganta arrancassem do fundo essa vida que me negas delicadamente, de cada vez que me procuras e me tomas, contudo me enveneno mais quando não vens e ninguém então me sabe parado feito velho num resto de sol de agosto, escurecido pela tua ausência, e me anoiteço ainda mais e me entrevo tanto quando estás presente e novamente me tomas e me arrancas de mim me desguiando por esses caminhos conhecidos onde atrás de cada palavra tento desesperado encontrar um sentido, um código, uma senha qualquer que me permita esperar por um atalho onde não desvies tão súbito os olhos, onde teu dedo não roce tão passageiro no meu braço, onde te detenhas mais demorando sobre isso que sou e penses que sabe que se aceito tuas tramas, e vomitas sobre mim, e depois puxa a descarga e te vais, me deixando repleto dos restos amargos do que não digeriste, mas mesmo assim penses que poderias aceitar também meus jogos, esses que não proponho, ah detritos, mas tudo isso é inútil e bem sei de como tenho tentado me alimentar dessa casca suja que chamamos com fome e pena de pequenas-esperanças, enquanto definho feito um animal alimentado, apenas com água, uma água rala e pouca, não essa densa espessa turva do mar de que me falaste no começo da tarde que agora vai-se indo devagar atrás das minhas costas, e parado aqui do teu lado, sem que me vejas, lentamente afio as pedras e as facas do fundo das minhas pupilas, para que a noite não me encontre outra vez insone, recomponho sozinho um por um dos teus traços, dos teus pêlos, para que quando esses teus olhos escuros e parados como as águas do mar de inverno na praia onde talvez caminhes ainda, enquanto me adentro em gumes, resvalaram outra vez pelos meus, que seu fio esteja tão aguçado que possa rasgar-te até o fundo, para que te arrastes nesse chão que juncamos todos os dias de papéis rabiscadas e pontas de cigarro, sangrando e gemendo, a implorar de mim aquele mesmo gesto que nunca fizeste, e nem sempre sei exatamente qual seria, mas que nos arrancasse brusco e definitivo dessa mentira gentil onde não sei se deliberados ou casuais afundamos pouco a pouco, bêbados como moscas sobre açúcar, melados de nossa própria cínica doçura acovardada, contaminado por nossa falsa pureza, encharcados de palavras e literatura, e depois nos jogasse completamente nus, sem nenhuma história, sem nenhuma palavra, nessa mesma beira de mar das costas da tua terra, e de novo então me vens e me chegas e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque é assim que és e unicamente assim é que me queres e me utilizas todos os dias, e nos usamos honestamente assim, eu digerindo faminto o que teu corpo rejeita, bebendo teu mágico veneno porco que me ilumina e me anoitece a cada dia, e passo a passo afundo nesse charco que não sei se é o grande conhecimento de nós ou o imenso engano de ti e de mim, nos afastamos depois cautelosos ao entardecer, e na solidão de cada um sei que tecemos lentos nossa próxima mentira, tão bem urdida que na manhã seguinte será como verdade pura e sorriremos amenos, desviando os olhos, corriqueiros, à medida que o dia avança estruturando milímetro a milímetro uma harmonia que só desabará levemente em cada roçar temeroso de olhos ou de peles, os gelos, os vermes roendo os porões que insistimos em manter até que o não-feito acumulado durante todo esse tempo cresça feito célula cancerosa para quem sabe explodir em feridas visíveis indisfarçáveis, flores de um louco vermelho na superfície da pele que recusamos tocar por nojo ou covardia ou paixão tão endemoniada que não suportaria a água benta de seu próprio batismo, e enquanto falas e me enredas e me envolves e me fascinas com tua voz monocórdia e sempre baixa, de estranho acento estrangeiro, penso sempre que o mar não é esse denso escuro que me contas, sem palmeiras nem ilhas nem baías nem gaivotas, mas um outro mais claro e verde, num lugar qualquer onde é sempre verão e as emoções limpas como as areias que pisamos, não sabes desse meu mar porque nada digo, e temo que seja outra vez aquela coisa piedosa, faminta, as pequenas-esperanças, mas quando desvio meu olho do teu, dentro de mim guardo sempre teu rosto e sei que por escolha impossível recuar para não ir até o fim e o fundo disso que nunca vivi antes e talvez tenha inventado apenas para me distrair nesses dias onde aparentemente nada acontece e tenha inventado quem sabe em ti um brinquedo semelhante ao meu para que não passem tão desertas as manhãs e as tardes buscando motivos para os sustos e as insônias e as inúteis esperas ardentes e loucas invenções noturnas, e lentamente falas, e lentamente calo, e lentamente aceito, e lentamente quebro, e lentamente falho, e lentamente caio cada vez mais fundo e já não consigo voltar à tona porque a mão que me estendes ao invés de me emergir me afunda mais e mais enquanto dizes e contas e repetes essas histórias longas, essas histórias tristes, essas histórias loucas como esta que acabaria aqui, agora, assim, se outra vez não viesses e me cegasses e me afogasses nesse mar aberto que nós sabemos que não acaba assim nem agora nem aqui.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O frio que me atormentou

Era uma coisa que eu pensava que poderia acontecer, mas nunca imaginei que fosse acontecer. Talvez porque eu ainda seja nova demais para pensar no amanhã, ou talvez eu realmente deva pensar no amanhã antes de tomar alguma decisão hoje. Não sei. Está tudo confuso. Tudo diferente. Minhas mãos estão geladas, se eu estivesse no meu estado "normal" eu não estaria escrevendo uma hora dessas, mas é que eu preciso, careço, necessito soltar estas palavras, brincar com o ar da tua graça nesse meu dia tão frio. Olha, desculpa eu estar ocupando o teu tempo com esse texto inútil na tua vida, com essa prosa um pouco incoerente para o momento, mas é que eu estou com frio. Me abraça?

Hug

- No que pensas, Mary?
- Ah, em um monte de coisas...
- Coisas?
- É, eu não sei... Não sei o que falar.
- Deve ser o frio...
- Me esquenta?
- Que pergunta. É claro que sim.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O dia de amanhã

Ontem eu não quis acordar para viver o hoje
Hoje eu não quero dormir para viver o dia de amanhã.
Não quis viver, eu quis morrer.
Não quis morrer, eu quis viver.
Vai entender, sou uma contradição.
E meu coração bem sabe o porquê.

As estrelas (...)

- Que tanto olhas para estas estrelas, Jude?
- Ah, Mary... não sabes a imensidão que és isto.
- Sei bem, mas não vejo mais beleza nestas estrelas.
- E por que não?
- Já perdi tempo demais contemplando-as.
- Pare de bobagem! Eu sei que com o tempo não se brinca, mas isso te fará bem.
- Eu não vejo mais graça nas estrelas, Jude.
- Então não enxergas mais graça na vida, Mary.
- (...)
- Olha, eu sei que tá difícil, eu sei que dói, mas eu quero te ajudar a se levantar. Me dê a tua mão, venha contemplar comigo essa beleza da vida, da natureza, do espaço.
- Por que estás fazendo isso?
- Porque durante metade da minha vida, tu ajudou a me levantar, e agora é a minha vez. Só estou retribuindo o que fizeste por mim. Não por obrigação, mas por consideração.
- Sem gratidão, por favor.

A vida e a morte

Já me conformei com a morte. Não falo daquela morte comum das pessoas. Falo da morte das coisas, dos sentimentos vividos, das histórias. A morte da poesia e das orquídeas; morte das palavras dentro de mim e tenho certeza que dentro de todas as pessoas. Não temo "morrer", exatamente neste contexto, pois pra mim a morte é um transporte para entrar na nossa vida coisas novas, pessoas e sentimentos renovados. A morte é uma transição para a próxima etapa desse jogo da vida. Desse jogo de pura sorte ou azar, mas que não é em vão, não. Adquirimos mais força toda vez que caímos. Claro, perdemos energia, mas a energia é recompensada pelos prêmios que você recebe ao longo desse imenso caminho. Em troca disso tudo, ganhamos mais habilidades. Essas habilidades é o que levaremos até o final do jogo. Se eu sobreviver, fui uma vencedora e poderei me orgulhar do legado que construí. Se perdi... Bem, aí eu perdi a minha única chance, ou talvez eu até ganhe outra chance de retomar o meu jogo, mas isso não sou eu quem vou dizer. E olha só, uma dica que me deram e que eu quero passar pra todo mundo: a vida é uma ironia. De fato, deve ser. Nunca tive uma experiência que me comprovasse isso, até porque sou nova demais, mas já presenciei na vida de pessoas que eu bem conheço. Outra dica: é preciso ter muito cuidado nas nossas escolhas. Vamos nos arrepender e, muitas vezes, esse arrependimento não basta para recuperarmos o que perdemos. É, meu caro. É a tal da vida. Aí é que eis a questão: do que você tem mais medo? Do jogo da vida, sem chances ou do jogo da morte (das coisas, das pessoas...), mas com a chance de poder ter uma vida renovada? E se você colocar tudo a perder de novo? Eu realmente não sei.

terça-feira, 13 de abril de 2010

As últimas palavras que eu escrevo pra você

Minhas frases são imensos textos sem fim, minhas canções soam como um soneto em teus ouvidos e as minhas letras se transformam em poesia diante do que tu vês. Tu já me deste tanto de ti, já sangraste por mim, já me escreveste a mais pura e singela das poesias de amor através apenas do teu olhar obscuro e indecifrável. E eu te ofereci apenas metade do infinito de palavras que cabe em mim. Fora as canções de amor, cujas melodias nunca coincidiram com a tua música. Eis que entro pra tua dança. Ora valsa, com aqueles olhares e sorrisos esbanjando sentimentos. Ora tango, com a sensualidade e demonstração física de um amor que não tinha fronteiras. A música parou. A dança acabou e nós nos sentamos, nos acomodamos. Notei grandes diferenças nos meus dias: começaram a ser mais cinzas e chuvosos perante a tua ausência. O que um dia foi poesia rica em rimas e palavras puras se tornou um texto sem parágrafo e incoerente. Preto e branco. É assim que eu enxergo as nossas fotografias agora, como aquelas fotos antigas que hoje eu olho e digo "nossa, eu era feliz e não sabia". Rasguei todas as cartas que eu te escrevi, pois todas essas palavras, sem que tu percebeste, era o meu amor por ti. Tu não o viu passar, apenas o sentiu. Como o vento que hoje leva as nossas dores e diferenças, deixando apenas restar as boas recordações da nossa linda história de amor.

São as minhas últimas palavras pra ti, C. Portanto, aproveite-as. Sem gratidão, sem rancor, sem perdão. Apenas o que restou de nós. Apenas o que restou dessa linda poesia que é recitada juntamente às várias e intermináveis canções de amor que eu escrevi pra ti. Apenas estas palavras.

Te esperarei em Santiago, se Deus quiser, e vai querer. Um amor assim merece uma despedida mais doce. Mais açúcar, por favor.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Hey amigo

Hey amigo, quem tu pensas que é?
O que fizeste da minha vida?
Por que mentiste pra mim?

Hey amigo, eu confiava em você
Eu acreditava nas tuas singelas palavras
Eu admirava o teu caráter

Hey amigo, destrua os nossos vínculos
Apenas esqueça, esqueça
Desista de ser quem tu és!

Hey amigo, me dê a tua mão pela última vez
Mas não fale mais nada, não fale nada
As tuas palavras não me interessam mais.



Skinny love

http://www.youtube.com/watch?v=VUvILO8qNgE

Lembranças, recordações.

domingo, 11 de abril de 2010

Sonnet

Pega este violão, meu caro
Toca pra mim uma canção de amor
Faz as tuas lágrimas evaporaram
Não desista, não desista

Canta pra mim, meu amigo
Grita a tua insistência
Nesta noite de luar
Tu só queres me beijar

Me declare as tuas palavras bonitas
Recita as tuas poesias sinceras
Não desista, não desista

Me cante mais uma canção de amor
Torne esse dia feio em um dia belo
Só quero ouvir a tua voz.


Datas

Não me esqueci ainda dos dias que nos encontramos, das noites que olhamos as estrelas juntos e, principalmente, do gosto do teu beijo. São momentos que eu perdia totalmente a noção das coisas, esquecia que eu pertencia a um mundo diferente do teu e que o nosso "pra sempre" poderia sim ter um fim. E teve. Foi um fim doído para ambos. É meio óbvio a dor que iremos sentir tendo em vista as tantas datas especiais que iluminavam o meu pensamento toda vez que me surgia uma lembrança de ti. Ainda surge. Nas ruas por onde cruzo, nos lugares que freqüento, nos meus amigos, nos rostos das pessoas. A única coisa que eu nunca consegui enxergar que me lembre de ti é o olhar das pessoas. Teu olhar era único. Tu me olhava de uma forma tão encantadora que chegava a me deixar encabulada. Era o amor. O amor que atormentava os meus dias, que sacrificava o meu coração com a imensa e eterna saudade que eu tinha de ti. Ainda tenho. Ainda sinto a tua falta. Por mais que a minha insanidade esteja fora do controle, meu coração ainda tem um pedaço de ti. Meu corpo ainda sente a falta do teu carinho, dos teus beijos e abraços apaixonados, do teu cheiro delicado. Meu pensamento desacostumou-se com a ideia de que agora é só eu e você e não mais "nós". Ah, eu também sinto falta desses pronomes possessivos. Falta de te chamar de "meu", dos teus ataques de ciúmes e das nossas conversas maliciosas. Sei que ainda te machuco falando isso, ou talvez seja até um alívio pra ti ler que eu ainda penso em ti, que eu sinto a tua falta nos meus dias. Queria te dar bem mais do que eu te dei enquanto estávamos juntos. Queria te oferecer a viagem mais linda, o anel de casamento mais brilhante e a noite de amor mais perfeita de todas. Ah... meu passado ainda não foi varrido de mim. Teu cheiro ainda permanece nos meus lençóis. A tua voz nos meus tímpanos e o teu olhar... ah, teu olhar ainda está em mim. Não quero o largar. Não quero. Eu te fiz sofrer. Te fiz chorar. Eu desperdicei a pessoa que mais me amou nesse mundo, por não sentir o mesmo. Por preferir a minha liberdade, a minha vontade louca de voar, de fazer o que eu quiser. E eu estou voando agora. Estou indo cada vez mais longe de ti. Cada vez mais me distancio do teu coração, que agora está frio. Que nem o meu. Frio como os pólos que nos limitam. Ei... não me leve a mal em estar te falando isso, eu precisava desabafar. Pela última vez, de uma vez por todas. Prometo não mais falar de "nós", não mais relembrar as datas que nos marcaram. Mas é que passaram-se dois dias que completaríamos um ano e seis meses e eu precisava, necessitava vir aqui te dar a minha gratidão, o meu "muito obrigada" por ter feito parte da minha vida, por ter me ajudado a crescer, por ter permanecido em meu coração até hoje. Aqui. Guardado no teu canto que tu bem sabes onde fica. Guardado em mim, apenas em mim. Dentro de mim. É a única coisa que eu poderei levar de ti em mim: o teu amor.

"Me desgrace, me odeie, só nunca esqueça que eu amei você. Me difame, me odeie, só nunca esqueça que eu amei você."

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Um pequeno pedaço de mim

Eu sou o melhor que posso ser
Eu sou um traço rabiscado num papel queimado
Eu sou um monte de palavras coloridas
Eu sou um monte de coisas embrulhadas
Eu sou uma confusão, decepção pra quem já me amou;
Eu sou o motivo dos teus choros
Do teu pranto que implora
Eu sou o pior que posso ser, mas não adianta
Tudo o que eu posso ser
Tudo o que eu espero de mim mesma
Simplesmente evapora
Como as lágrimas dos teus choros
Como o mar que me leva e me trás sempre na hora errada;
Eu sou aquela rosa plantada num jardim abandonado
Eu sou tudo o que restou das lembranças do meu passado
Porque eu deixei tudo escapar
A minha vida voltar a ser tudo o que eu não desejo ser
Tudo o que eu espero de mim mesma
Simplesmente evapora
Como as lágrimas dos teus choros
Como o mar que me leva e me trás sempre na hora errada;

"Não me deixe entrar na tua vida;
Não me deixe mudar a tua história;
Não deixe esse acorde fazer você chorar;
Não deixe essa melodia te estragar;
Porque eu sou tudo o que não quero ser".



quinta-feira, 8 de abril de 2010

O tempo vai curar a dor (...)

- Não te vás, não. Por favor.
- Perdoe-me, Mary, mas já tomei minha decisão.
- E teu amor? Para onde foi?
- Eu já lhe dei tudo o que tinha para lhe dar, e ainda assim, não foi suficiente.
- Foi suficiente sim.
- Mas tu só foi ver agora.
- Me desculpe, Jude.
- Chega de lamentações.
- :/
- Tu vais ver que será melhor. Tu vais ver que a dor que tu sentes, e eu também sinto, vai passar. O tempo vai te mostrar isso.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Sleep

Tenho uma vontade imensa de largar tudo o que eu tenho; todas as minhas vitórias, tudo o que me trouxe até aqui. Largar de mão todas as pessoas que me rodeiam; minha família e meus amigos; largar meus estudos, planos e sonhos. Desistir da minha vida. Assim, de repente, entende? Sem que ninguém perceba que aos poucos eu estou me afastando desse mundo que eu julgava ser perfeito pra mim, mas que não passa de uma fantasia que eu mesma criei pra me safar das minhas próprias mentiras. Eis que Renato Russo uma vez poetizou "mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira". Ele estava certo. Há coisa pior do que te colocar num mato sem cachorro? Numa estrada escura sem ninguém pra te acolher? Há dor pior que isso? Não. Não há. Não penses que estou me lamentando. É que hoje eu quero desistir. E pensar em desistir sempre é uma coisa ruim pra mim. Eu, que tanto prezo pela insistência, nunca consigo terminar as coisas que eu começo. Ou se termino, tenho que mudar o começo. É como aqueles livros que pego na biblioteca onde sempre eu leio o final para ver se vou gostar de ler o livro todo. Nunca leio. Nunca termino o que começo. Ah, tu nem sabes a insatisfação que eu tenho de ser assim. Pois bem, hoje só quero desistir. Tomar uma xícara de café e dormir. Não acordar, não acordar...

domingo, 4 de abril de 2010

Jude

- Gosto das tuas palavras inconseqüentes. Elas me fazem ver quem tu é.
- E quem eu sou, Mary?
- Eu não sei.
- Mas tu disseste que as minhas palavras inconseqüentes me definem.
- Não. Eu disse que elas me fazem ver quem tu é.
- E não foi o que eu havia dito?
- Jude, ver não significa definir. Não há uma palavra certa para te definir.
- E o que você vê sobre mim?
- Uma neblina escondendo cinzas de um passado não tão distante.

As cartas em cima da mesa

Acho que tudo está voltando agora. Não, tudo não. Algumas coisas. Acho que algumas coisas estão voltando agora. Algumas coisas que eram importantes antes pra mim, mas que, passado algum tempo, já não faziam mais sentido, agora fazem. Fazem mais do que nunca. Talvez seja pela volta do significado daquelas palavras que eu havia te dito há um tempo atrás. Palavras que nunca deixaram de ser verdade, mas eu estava presa a algo que, aos poucos, contradizia o que eu havia dito. Acho que isso que eu sinto, esse brilho ao te ver, nunca deixou de existir. Talvez seja coisa da minha cabeça, ou talvez eu esteja confundindo as coisas, mas eu acho que eu fico nervosa quando te vejo. Sim, nervosa. Não aquela nervosa, histérica e emocionada, mas aquela nervosa de "meu Deus, o que eu faço?". Entende? Não me imaginava nos teus braços. Não de novo. Não me imaginava nos braços de ninguém. Só nos braços de uma outra pessoa que agora já faz parte do meu livro de memórias. Mas nos teus braços, não. Despertei de um sonho que eu havia criado para mim mesma. E toda vez que eu te vejo, percebo que a minha realidade é essa. A minha realidade são as pessoas que estão a minha volta, não longe de mim. Essa é a verdade. Tu me fez perceber isso. Me fez perceber também que não há um amor que dure, que o amor foi feito pra gente crescer, pra amadurecer, para os nossos dias não ficarem sempre aquela coisa monótona. Me fez perceber que sempre é bom mudar, mas nunca esquecer as origens, o que tu foi, o que tu é, antes de tomar alguma atitude. Agora, mais do que nunca, ando ainda mais "confusion". A culpa não é tua não. Eu bem que gosto de me meter em confusões mesmo.

Sol da meia noite

- Ei, Jude. Durma no meu lado?
- Como?
- Durma comigo essa noite.
- Tudo bem, Mary.

- Jude?
- Oi?
- Estava dormindo?
- Não, Mary, eu estava pensando.
- Pensando no que?
- Nas estrelas.
- O que tem elas, Jude?
- São tão brilhantes.
- Hum.

- Mary?
- Sim?
- Você gosta mesmo de mim?
- Ainda tem dúvidas?
- É que você não me demonstra isso.
- Demonstro sim.
- Não demonstra não.
- Demonstro sim.
- Onde? Como? Quando?
- Estou sorrindo pra você agora.
- Sim, e daí?
- Estou olhando pra você agora.
- Tudo bem, mas o que isso tem a ver?
- Você não me entende.
- É, não entendo.
- É que você não gosta de mim.
- Eu gosto.
- Não gosta, Jude.
- Gosto, Mary.
- Me prova então.

- Mary? Ah, você dormiu... Eu estou olhando pra você agora.

*Não é tão fácil assim de se interpretar.

Oh, my love...

Hoje eu ouvi a música que eu tinha te feito em Julho do ano passado. A primeira vez que eu a ouvi desde os últimos acontecimentos. É como se fosse um resumo de toda a minha vida em simples acordes no teclado. Acordes errados que contam uma história totalmente inversa a de hoje, mas que ainda assim, essa canção diz por mim. Foi uma coincidência totalmente estranha. Eu estava escrevendo num pequeno bloco de notas que tenho, quando caiu uma folha de papel. Pensei ser alguma das cartas que eu sempre escondo no meio das minhas coisas, mas quando o abri era essa canção. Não fiquei surpresa, não. Fiquei mais surpresa com o que eu havia escrito: "Minhas palavras são tão frias para a tua fragilidade / Não deixe que esse acorde estrague a tua vida / Não deixe que essa sequência de palavras nos destrua, agora, aos poucos, até o nada.". Minhas palavras foram tão frias contigo. Tão insensíveis. Eu mudei? Talvez eu tenha a resposta certa agora. Mudei, sim. Estou mais forte a cada dia que passa. "A fraqueza que eu julgava ser uma máscara para as minhas mentiras, acabou se transformando num punhal que me derrubou aos prantos no chão. E não havia ninguém para me levantar. Nem você". Não pense que o fato de eu ainda estar escrevendo pra ti, significa que eu tenha me arrependido de algo. Não, não me arrependi de nada, nem vou me arrepender. É como diz a canção: "Vivo na margem de um rio, contentando-me com toda essa enchente. Minhas escolhas foram tão exatas..."

O mundo não é mais o meu. Nem o teu. O nosso mundo já acabou. "Nosso", também. E todos aqueles pronomes possessivos.


sábado, 3 de abril de 2010

Neblina

Tão sublime
De diversas cores
Elevado acima de todos
Muito alto, excelso, grandioso
É o meu amor por ti
Tão distante
Em preto e branco
Remoto, tão sozinho
Alheado é o que eu sou
Nostalgia foi o que restou

Diga-se de passagem (lembranças ruins)
Tão alto que chega a ser difícil
Porque o gelo esfria
De pólo norte a pólo sul
Da tua vida até a minha
Do teu coração até o meu

Das entrelinhas até as frases
Das palavras até as ações
Das ações as dores
Das dores a um coração dilacerado
Do coração dilacerado a um recomeço

Do recomeço, avisto outros olhares
Outros perfumes e outras faces
Temo em amar outra pessoa
Nem sei se conseguiria amar alguém diferente de você
Me acostumei com a tua presença que até esqueci o que é amor
Só sei dizer o que é dor, só sei dizer o que é dor.

Diga-se de passagem (lembranças ruins)
Tão alto que chega a ser difícil
Porque o gelo esfria
De pólo norte a pólo sul
Da tua vida até a minha
Do teu coração até o meu





Os segundos

Cada acorde em seu lugar
lembra um sorriso,
mas não quero lembrar
Que a noite vem caindo
trazendo o teu olhar
Cada palavra que falei
lembra uma história
que eu nem mesmo sei
mas como vento,
vem tão depressa
A verdade é bem mais forte
vou deixar
que o destino mostre a
direção
Foi pouco tempo
mas valeu
vivi cada segundo
quero o tempo que passou. [...]

Os segundos, Cidadão Quem.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

A purpurina que transparece nos meus dias

Suspiro nos teus ouvidos aquelas palavras que tu bem gosta de ouvir. Em sonho. Em dor.

- Mary, como se sente hoje? Estás tão quieta...
- Me sinto bem, Jude. Não estou quieta, não.
- Tuas palavras estão frias.
- Dilacerei meu coração.
- Como?
- Estou de coração partido, Jude.
- Sim, eu sei, mas como?
- Como o que?
- Quem o partiu?
- As tuas palavras frias.
- Minhas?
- Sim, tuas.
- Mas não temos nada, Mary.
- Por isso mesmo.

Os amantes estão em apuros

Queria eu entender essa lógica que rege a vida de milhares de pessoas. Queria eu poder acreditar em mim mais uma vez. Acreditar nas minhas palavras, nas tuas ações. Acreditar em tudo o que eu sinto e não sinto, gosto e não gosto, quero e não quero. Queria eu enxergar a minha realidade. Enxergar com outros olhos tudo o que eu estou fazendo. Queria eu ser uma força maior que os humanos pra saber se o que faço é certo ou não. Queria eu ser o melhor pra ti, ser o melhor contigo. Queria eu viver de amor, poder fazer exatamente o que eu fiz no teu sonho: sentar à margem da praia sem temer em te abraçar. Queria eu saber esquecer tudo o que vivemos, enfrentar todas as minhas próprias mentiras a mim mesma. Queria eu esquecer tudo isso mais rápido, como se fosse uma espécie de amnésia-espontânea, que só aconteceria quando algo realmente estivesse me fazendo sofrer. Queria eu não sentir orgulho, tendo em vista a pessoa que eu amo. Queria eu te dar o mundo, mas não posso te dar mais nada. Nem um décimo desse amor que ainda resta. Talvez quando eu realmente ver que sofrer vale a pena quando se ama alguém, eu possa ser sua novamente. Queria eu ser tudo, mas não sou nada.

Qual é o valor do amor?
Qual é o valor da dor?
E se eu subtrair amor pela dor?
E se a resposta for nula?
E se eu transformar essa situação em uma equação, igualando amor e dor a você?
E se eu criar outra situação somando eu mais você, igualando ao amor?
E se eu mudar totalmente essa situação, somando eu mais você menos dor, igual ao amor?
Qual é o teu valor?
Qual é o meu valor?
Talvez eu teria a resposta certa.
Talvez eu não teria nada.