sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O ar

Eu entrava cuidadosamente para não fazer barulho. Abria a porta e finalmente meus olhos esboçavam uma felicidade jamais vista. Só em colocar o meu pé no mesmo ambiente que o seu já me faz a garota mais feliz do mundo. É algo tão simples para uns, algo que poucos conseguem sentir e expressar em palavras. Fechava a porta do seu quarto também cuidadosamente, sabendo que ela fazia um barulho mesmo com todo o cuidado do mundo. E você acordava. Olhava para o alto e assim, voltava a adormecer. Eu chegava mais perto para ouvir a sua respiração, o seu sussurro tão inocente, talvez nem percebendo que do seu lado estou eu, abraçando-o e sentindo o seu coração, sentindo o mesmo que sente por mim ao me ver. E ficava ali, com aquele pequeno respingo de respiração que me fazia feliz, que me fazia sonhar com um futuro mais próximo, com um fim de tarde com você sem que haja preocupações. E deitava ali, com o ouvido no seu peito, escutando seu doce coração que bate por mim.

(...) Ah, se soubesses do quanto eu aqui respiro o teu ar,
Eis que saberia que és tudo que eu preciso para respirar. (...)

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Longa Infância

Muitos pensam: ficamos nove meses dentro da barriga de nossas mães desenvolvendo-nos e sendo assim, tornando-nos gente, humanos, pessoas. A partir daí, começam as complicações. Nascemos, vivemos nossa longa infância que fica marcada na primeira palavra falada, nos primeiros gestos afetivos, nas brincadeiras, nas aprendizagens que não são poucas. Aprendemos que não é certo bater em amigos, falar palavrões, desrespeitar os mais velhos e responder alto aos nossos pais. Crescemos, conhecemos novas pessoas, nos surgem espinhas em todo o rosto, passamos por uma fase que a maioria dos pais costumam chamar de “aborrecente”. Nos irritamos facilmente, nos apaixonamos facilmente, nos machucamos facilmente. E sim, também temos grandes aprendizagens, como de sermos mais calmos, compreensivos, maduros e termos nosso tempo de realmente gostar de alguém. Aprendemos a não banalizar o “eu te amo”, a agir de forma responsável e também a fazer comidas. E depois vem a fase das experiências, do trabalho, da hora de pensar apenas no futuro e em tudo o que vai marcar pra sempre a nossa imagem, o nosso caráter, a nossa honestidade. Saem-nos algumas rugas, algumas marcas que o tempo deixa no nosso corpo sem que percebêssemos. Passamos a sair menos, assistir TV mais, a tomar mais de um banho todos os dias, a comer sopa no jantar, a sentar na frente de casa para tomar chimarrão e ver quem passa na rua. Ficamos sempre a espera do dinheiro da aposentadoria, da visita de um filho, de um amigo, de um irmão para nos cuidar quando a doença nos atinge, nos mata aos poucos. Viramos crianças de novo, pois necessitamos ainda mais da ajuda de alguém, no entanto, não temos mais nossos pais, nossas avós para que dessem comida na boca, remédios, carinho e atenção. Não temos mais ninguém que possa nos ajudar. Talvez a velhice seja isso, uma eterna infância, um reviver da ingenuidade de precisarmos de alguém, uma espera, uma expectativa e uma só esperança.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Quase nó

Se hoje aqui choro, nessa simples postagem, ao som daquela mesmo canção que me perturba a tantos e tantos dias, é por você. Sim, você. Tem certas coisas que a gente não esquece não. Não é nem um laço, é um nó. E bem amarrado. Pode estar meio solto agora, mas ele ainda permanece aqui: em mim e em ti. Sinto a sua falta, minha irmã. Sei que as minhas palavras não são nada perto dessa tempestade que está dentro de nós, mas eu sinto a necessidade de escrever-te. Queria dizer que hoje eu choro poços de lágrimas. Que desde que você soltaste a minha mão para o mundo, o meu olhar não é mais o mesmo. Que as estrelas do céu não brilham mais como o quanto brilhavam quando você estava a me iluminar. Muita coisa mudou, eu sei, mas nada vai ficar pra trás. O que existe em mim e em ti é o amor mais puro do universo. E por ser justamente um nó forte, é o que mais dói. Dói em mim e sei que dói em ti, mas que amor que não dói? Olha só, eu gostaria que soubesse o quanto eu estou aqui por você, o quanto eu sinto muito por tudo que aconteceu. Eu gostaria que realmente entendesse que não há nada nesse mundo que me tire dos teus braços, não. Só guarde essas palavras. Só guarde ainda o meu olhar que reflete em ti. E não tente desamarrar esse nó, pois não há nada que possa me tirar de ti.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Desde que eu não tenho você

E sim, eu penso vagamente em tudo ao meu redor, tudo o que veio me levar até aqui. Foi uma decisão tão simples, tão óbvia que chega a nem ser surpresa para todos. E sim, sinto a sua falta, naqueles dias em que não nos separávamos por nada, naqueles simples dias de chuva em que ficávamos no quarto tentando tocar e cantar alguma coisa, mas nunca saía nada. Foi assim, dessa forma, que talvez tu até ainda me ache uma criança, mas chegaste a hora de perceber que não, não sou mais aquela criança inocente. Chegou a hora de percebestes que eu tenho o meu próprio caminho, que é assim, desse mal jeito, errando, errando e errando que irei aprender e saber quem eu sou de verdade. Vai ser difícil, vai ser uma longa trilha, mas levando comigo àquelas pessoas que eu amo de verdade, não vai ser impossível. É isso que peço-te: compreensão pela minha decisão. Não tente separar o que há entre eu e meu coração. Não tente. Tudo que fizeres será inútil. Não me afaste ainda mais de ti. Não pense que ainda sou uma criança. Não tome decisões por mim. Não mais. Permaneça aqui comigo, onde sempre esteve, nesse lugar reservado só para você, desde que nasci, até morrer. Permaneça do meu lado, como sempre esteve, me ajudando, me cuidando, mas não tente me proteger de mim mesma, dos meus caminhos, do simples "errar". Apenas esteja aqui, pois serei eternamente grata se continuares a me abraçar, me beijar, me incomodar ou até mesmo brigar comigo. É exatamente isso: sangue do meu sangue. Eu a amo, intensamente.

Ouvindo: Since I Don't Have You, Gun's N Roses.