quinta-feira, 28 de abril de 2011

Preciso te olhar. Aliás, preciso te dizer que eu preciso te olhar. São tantos os meus olhares, mas preciso te dizer para que saibas do jeito que eu preciso te olhar. Aliás, eu não paro de te olhar. Poderia ficar te observando por horas que eu não conseguiria enxergar tamanha expressão e perfeição. E são tantas as tuas expressões. Por isso eu não consigo deixar de te olhar. Queria que soubesses que eu preciso, repito, eu preciso te olhar.

domingo, 24 de abril de 2011

Dossiê memória

E estava intacta, quase só. O frio, o vento, o ar... Tudo conspirava a seu favor. Era exatamente a noite tipicamente perfeita para ela, quase só. E tomava um vinho seco em sua taça preferida, fazia cara de quem adorava aquele gosto meio amargo-meio doce. Sentava numa poltrona aconchegante situada em sua sala, em roda de uma lareira vermelha, enfeitada de fotografias e porta-retratos de pessoas já falecidas e até de outras gerações. Pegava um livro que sempre lia todas as noites para si mesma. Lia em voz alta, pois achava muito mais emocionante quando a história é narrada assim. O problema - que talvez nem seja um problema, apenas uma condição de que isso pode ser um problema - é que era sempre a mesma história, os mesmos personagens, o mesmo enredo, as mesmas tramas, as mesmas emoções, reações inesperadas e surpresas. Ficava ali, quase só, todas as noites em que o vento ganhava vida e o frio congelava seus dedos. Era um reflexo perfeito de uma vida cheia de caídas e perdas. Nos seus olhos, já marejados, não há paz. Nas suas mãos, já cansadas, há um livro. Poderia ser um livro qualquer, mas não é. E não é só pelo fato dele ser lido todas as noites em todos os anos já vividos - se é que se pode chamar isso de vida -. Mas sim pelo fato de ser um livro meio auto-biográfico, contando a história de uma vida quase só. Foram tantos lugares que poderiam ser visitados, foram tantas histórias que poderiam ter tido um outro fim. Não tiveram. A noite fria continua a mesma, o livro continua com a mesma quantidade de páginas, a história com o mesmo fim. Quase um dossiê memória. Quase só.

sábado, 23 de abril de 2011

Eu + eu

Corríamos desgovernados sob uma rua plana, naquele dia chuvoso e idiota, que subjulgamos o pior de nossas vidas. Escrevíamos cartas um ao outro, dizíamos que nos amávamos e erámos tão grudados e egoístas com nós mesmos. Aceitávamos o que nos convinha e queríamos sempre mais e mais e mais. Achávamos que estávamos fazendo o certo, quando na realidade o nosso certo era o errado para nossos corações. E sentíamos-nos em plena liberdade de nos expressarmos da forma que achássemos que seria melhor. Não nos importávamos com o que os outros ousavam sentir e pensávamos que seria assim sempre, da nossa forma. E eis que nos surgiu um espelho bom, cujo reflexo não mais nos reflexia juntos. Desde então, passei a acreditar nas estrelas cadentes e nos ciclos da vida. São inúmeros, sim. Todos com o mesmo propósito: viver. E isso nos soou como uma gaiola se abrindo, nossos braços esvoaços e machucados se desgrudando. Os laços que nos prendiam se desamarravam naturalmente e tudo parecia tão limpo e bonito. De fato, a vida é tão bela com sua imensidão deslumbrante. E de bela, não é só a vida, mas também as pessoas, as histórias, as lembranças, os amores e desamores, as marcas. Há tanta coisa por aí e eu aqui, falando que a vida é bela e etc. Pois chega de falar. Vou lá viver. Um dia eu volto.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

E é bonita, e é bonita

Tão bonita, tão bonita
Essa vida que eu me aventuro
E dela desfaço nós, amarro amores
Desencadeio sorrisos e brilho mistérios
E enrolo meus egos nos egos alheios
Na alma que em sua eternidade me comove
E me perco em bocas puras
Lamento sujeiras e exclamo revoltas
E sei que ela é bonita, é bonita
Na imensidão desse céu azul
Dessa Terra que gira em sua órbita
Em busca de um rumo certo
E de um certo rumo eu encontrei a ti
Cabelos esvoaçados, unhas pintadas
O vento culminava sob nossas peles
E corpo-a-corpo consegui entender
Que sim, ela é bonita, ela é bonita.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

RE: Stacks

Há pouquíssimos minutos atrás, eu chorei. Desesperadamente, eu chorei. E não me lembrava o quão bom era chorar. Por tudo que se perdeu aqui, por tudo o que eu fiz e tudo o que eu não fiz. Quero poder sair dessa vida podendo colocar a mão no peito exclamando que sim, eu errei, eu machuquei, eu me doei. Não com esse orgulho de ter feito a coisa errada, muito pelo contrário, com o orgulho de ter errado e aprendido com esse erro sem ter nenhuma perda em minha vida. E disfarcei - o choro -, eu disfarcei. Lavei meu rosto, dei alguns tapas para sair a cara feia e voltei com aquele meu olhar cego, focado numa só escolha que eu mesma fiz. E senti, sim, eu senti. Na pele, no toque, no teu olhar. Eu senti tudo o que estava passando por dentro de ti e, sinceramente, eu já não sei o que me trouxe até aqui. Quero me redimir, mas não sei por onde começar, não sei nem o que eu estou falando. Queria te pedir para ficar. Queria que ficasse. Eu queria muito. E queria que, além de ficar, que você me fizesse ficar, como fez todos esses dias, como sempre eu sei que só você o fará. E quero também que sorria, por mim, por nós, pelo céu, pela vida e seu maravilhoso ciclo. Quero que sorria, acima de tudo, sorria.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Aprender, re-aprender

Às vezes penso que desaprendi a amar. De certa forma, precisamos errar para entender o que é certo ou não, mas eu havia mudado essa concepção a algum tempo. Talvez sejam esses inúmeros rostos que passam em nossas vidas, cada um com uma história diferente para contar. Ou talvez tudo não passe de crescimento, no meu caso, aconteceu efeito contrário. Acho que tenho a resposta certa para isso. Sair de uma vida irresponsavelmente adulta para uma vida responsavelmente adolescente, bem como eu sou, não me foi fácil. No entanto, eu não estou aqui para procurar o que é melhor pra mim ou o que eu achei que fosse certo a fazer. Eu estou aqui para aprender. Sim, aprender. Claro que ensinarei também, mas aprender, acima de tudo, é uma coisa irresistível, essencialmente quando se trata de uma pessoa que me ganhou por completa, em carne e osso. E, mais do que isso, entender que é preciso ganhar um impulso mais forte para respirar fundo e enfrentar essa vida, é algo ainda mais gostoso de sentir.

Não falo de arrepios, desses que a gente sente quando alguém respira no nosso pescoço. Falo de calafrios, desses que a vida nos faz sentir quando erramos.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Nostalgia

Nem sempre nostalgia significa precisar daquilo que você sente falta. Acho imprescindível deixar isso claro aqui, até pra esclarecer algumas coisas dentro de mim, comigo mesma e com mais ninguém. Tenho um sério problema em me olhar no espelho e enxergar em mim aquelas pessoas que eu já gostei e até mesmo amei, eu acho. Não enxergo necessariamente o rosto delas, mas sei que quando eu as deixei, carreguei comigo um punhado de sorrisos e abraços e beijos e carícias e paixões. E isso não tem volta. Eu vivia acreditando no poder de reencontrar pessoas, e por mais que isso aconteça constantemente aqui, no meu pensamento, sei que seria inevitável não pensar que eu posso reencontrar quem for nesse exato momento que sei que agora não faria mais nenhum sentido. Digo isso porque, a muito custo se tornou a ferida mais dolorida e mais difícil de cicatrizar, mas cicatrizou. Me orgulho dessa cicatriz, porque toda vez que eu olho para ela, enxergo tudo o que eu passei para chegar até aqui e, honestamente, não foi nada fácil conseguir essa vitória.

E chorava pelos cantos, procurando algum ombro amigo, alguém que pudesse me tirar daquela dor. E cantava músicas tristes e escrevia versos teus, que de nada adiantaria te dizer. E foi assim que o hoje se tornou ontem e que agora não passa de mais uma nostalgia.


sábado, 2 de abril de 2011

Um desabafo do doce outono

Costumo acordar cedo, levantar atordoada da cama, escovar meus dentes, pentear meus cabelos, ligar a chapinha na tomada, encontrar - em alguma parte do meu guarda-roupas - uma camiseta qualquer, uma calça jeans limpa, e ainda, alguma meia que não esteja rasgada, de preferência também limpa e junto com o seu outro par que, óbvio, só pra contrariar, está sempre longe dela; voltando ao início, eu pego a chapinha e passo em algumas partes do meu cabelo desajeitado, seco, sem brilho, tiro ela da tomada e coloco em algum lugar que não pegue fogo; vou até a cozinha e esquento a chaleira pro meu chimarrão da manhã, claro, que gaúcho é esse que não toma chimarrão de manhã? tomo um café, vez'enquando, só pra não ficar sem nada no estômago, coloco meu all star e saio porta afora; analiso cada nuvem que encontro no céu que, quase sempre, está ensolarado; observo pessoas, reações, fumaças, carros e animais e, mais ainda, observo olhares que quase sempre estão corrompidos por alguma coisa ainda não explicada, alguma dúvida na cabeça, algum amor não correspondido, algum problema familiar, alguma sensação de angústia e dor, e fico, sim, eu fico meio que irritada com essa coisa de sentir tudo o que uma pessoa sente ao enxergar os olhos dela e a adivinhar tudo o que um coração sente, isso não existe, isso é pura besteira, não há como sentir e ver o que há dentro de outra pessoa se você não se torna parte dela, e essa coisa de essência também, não existe, não somos uma essência, não somos um produto químico ou algum perfume produzido em farmácias, somos seres humanos, somos um parte de outro e sempre vai ser assim, somos movidos e co-movidos pelos outros e não há nada que se possa fazer, não há ciência que duvide disso, e eu sorrio, sim, eu sorrio, andando pelas ruas, movida e co-movida pelas pessoas, pelas dores de amores não correspondidos que encontro em olhares, pelos carros e animais, pelas sensações e inconstância desse mundo que, sinceramente, foi a melhor coisa que inventaram.

E por que não disse?

É uma ideia frustrada que parte em direção ao teu coração e culminantemente me desperto de um sonho cujo personagem principal era você. Ah, tu não tens noção do poder que está tendo sobre mim. Ah, tu não queiras saber tudo o que se passa dentro da minha cabeça. Não sei se são teus olhos a me olhar, não sei se é a tua boca a me beijar, não sei quanto tempo terei ainda do teu lado. Ah, esse tempo. Ele sempre me surpreende. Me trás o que há de melhor e leva de mim no mesmo segundo em que me apresentou a pessoa mais incrível do mundo. É, mas as coisas são assim, né? É o que dizem, é o que tanto falam pra mim. Faz parte. Por falar em surpresas, e por que não disse, se tinhas tanto a me falar?

Texto feito em: 16/02/11.