segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Obrigada, vida

Sim, temos a cada dia que passa uma nova chance. Embora parecesse difícil, usufruir dessa nova oportunidade não é tão radical assim. Estamos constantemente ultrapassando obstáculos e, por mais bruscas as nossas quedas sejam, conseguimos nos declarar vencedores no final de cada jornada. As chances permanecem. Perdemos algumas, mas ganhamos outras. Assim se segue o ciclo da vida e mais um ano se vai. As razões se aquietam. Os motivos afloram. As pessoas se perdem. Os caminhos se abrem ou se fecham. E tu vais andar rumo ao que te pertence, para sempre. Ou não. Ou revida, e mostra a vida que pode ser mais forte do que ela. E esquece que sim, temos uma história interligada. E vai, vai, vai. Não para mais. Essa é a dita liberdade, mas tu para, descansa, respira direito. Tu começa a perceber que os caminhos se unem quando alguma coisa está escrita. As palavras podem nos trair, mas jamais vão ser apagadas depois de transcritas. Arde na memória. Arde no corpo. E parece que nunca vai passar. Mas passa. Passa sim. Uma hora ou outra, em alguma esquina, em algum bar, tu olha pro lado e enxerga uma linda garota. O cara se sente acanhado e nem vê que já está apaixonado de novo. Quanta confusão, né? Não foi a bebida, nem o cigarro, foi só o amor - dizia ele. Ele se prende, devora sua amada, quebra seu coração, esquece-a. Começa a sentir medo da vida, das pessoas, dos animais, de tudo. Não sai, não bebe, não fuma. Não vive. Ignora a vida social como se não existisse mais saída para aquela agonia. O coração despedaçou e o cara sente vontade de se matar, e acha que a dor nunca vai passar. Mas passa. Passa sim. Uma hora ou outra, em alguma esquina ou algum bar, ele olha pro lado e enxerga uma linda garota. A história se repete, se reflete em livros e outras experiências. Quando ele vê, é o mais puro ciclo do amor, e mais um ano se passa.  

*Agradeço-te vida. Pelo teu ciclo que me arde em chamas.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Ir

Apertei os cintos, segui a estrada louca da vida. E cá estou eu, absolutamente estável num lugar que eu jamais pensei que fosse algum dia chegar. Com minhas tralhas, roupas velhas, tênis sujo e o velho sorriso de sempre. Sorrisão, quer dizer, porque hoje sorrio mais. Sem medo, sem nada que me impeça de mostrar o brilho dos meus dentes brancos. Algumas rugas, sim. Mesmo que eu esteja nova fisicamente, o psicológico predomina. Minhas experiências se sobressaem e aí, bem sabes: olhar maduro, cabeça centrada e sem freio de mão. O controle exaustivo da minha vida é o que me move. A sensação única de estar ligada ao que me desafia, sem oprimir meus pensamentos. Ainda, com todas as minhas infinitas memórias, permaneço intacta na terceira lei de Newton, arriscando até o que eu não tenho, dando o que me convém, fortalecendo laços desatados, criando expectativas e utopias, mas estou maravilhosamente bem. Acelerando em quarta. Cada vez mais, cada vez mais, cada vez mais. É como um pedalar de bicicleta, cujas pernas, depois de percorrerem um longo percurso, se travam de um cansaço insaciável, mas você não para porque quer ir muito além do que te permitem. E aí surgem as pedras no caminho, olhares invejosos e pessoas que não te querem bem te provocando o mal. Não ligue, não ligue. Apenas aperte os cintos na hora que achar que deva ir. E vá.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

No além do horizonte eu avistei

em versos transcritos no papel
nos teus olhos verdes doces como mel
no além do horizonte eu avistei
o deslumbre do teu corpo que manejei

e repetia para mim, incansavelmente
"eu estou no caminho certo", tu sentes?
de fato, não me canso de falar
o céu com ou sem estrelas, tu nascestes para brilhar

não sintas vergonha
por ser a minha insônia
nem tenhas medo
de se entregar ao meu enredo

do horizonte eu avistei alguém
e aí percebo que antes eu era um ninguém
mas me comovo, ainda assim, meu amor
o que fez comigo para eu sair dos eixos sem temor?

sigo, sigo bem, sigo feliz
meus caminhos curvados, sem triz
sem pressa, sem ansiedade
com toda a perdição da sua suavidade.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A última pétala

O ar doce persistia na minha mente. E não só nela: no meu coração também. Cansada, eu juntava as pétalas de rosa caídas ao chão, seguindo uma trilha até então desconhecida. O medo não estava presente e nem o sentimento de obscuridade por não saber aonde eu iria chegar. Muito pelo contrário: a curiosidade era o que amenizava a minha dor, que de tão doída que estava eu já não sentia mais nada.  No vai-e-vem desse percurso, me descobri mais forte do que imaginava; mais veloz do que qualquer outro animal; mais pura e persistente ao que eu queria. Foi quando cheguei ao topo da montanha e a primeira coisa que fiz foi segurar com muita força a última pétala que encontrara. Nesse momento, o mundo, aos olhos mais grandiosos e excitantes, começou a rodopiar em roda da minha cabeça. Eu só conseguia enxergar as nuvens em perfeita sintonia. Devo ter desmaiado ou coisa assim, ou talvez devessem ter sido as pétalas da rosa que me fizeram ficar alienada, não sei. Mas de alguma forma esse momento me fez perceber a magia de viver intensamente, com quem for, com o que se queira ou sonha.  E acredite: não existe mágica mais forte do que essa. Passei a acreditar mais nas pessoas, valorizar os momentos, dar importância ao amor, em especial, aos suspiros poéticos e ardentes agindo ao meu corpo. Completamente sóbria e estável. Não arrependida, não sozinha, não feia, não mal. Vários não as coisas que perturbavam minha mente e levavam meu coração para o lado da confusão. Vários não e um só brinde: ao sim que eu dei para mim.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Na linha da vida

Na linha da vida estamos nós. Caminhando tortamente com um equilíbrio regido de forças outrem. Completamente encabulados e perdidos. E estamos juntos nessa caminhada, do amanhecer ao entardecer do dia; da noite que vai e vem, sem sequer percebermos o valor da mesma. Buscamos praticamente as mesmas coisas, com uma visão e idealização ainda mais ampla do mundo que, por sua vez, cresce de forma inatingível e fabulosa. Na medida em que o tempo passa, começamos a observar melhor detalhes que antes se passavam despercebidos aos nossos olhos. Não seriam necessariamente as pessoas que se tornam importantes para nós, mas sim a convivência com elas. A vida nada mais é que uma troca de experiências e histórias, e estamos todos os dias conscientes da nossa necessidade pelo outro. Essa visão fica clara num trecho citado por Serrão e Baleeiro (1999): "Quando olhamos por alto as pessoas, ressaltam suas diferenças: negros e brancos, homens e mulheres, seres agressivos e passivos, intelectuais e emocionais, alegres e tristes, radicais e reacionários. Mas, à medida que compreendemos os demais as diferenças desaparecem e em seu lugar surge a unicidade humana: as mesmas necessidades, os mesmos temores, as mesmas lutas e desejos. Todos somos um". Essa unicidade humana citada no trecho acima, se refere ao fato de todos nós, sem exceção alguma, estarmos aqui procurando as mesmas respostas para tudo que nos rodeia. Embora fossemos intelectualmente espertos e inteligentes, tivéssemos tantos e tantos cientistas mundo afora, ninguém - em hipótese alguma - consegue (iu) explicar os fenômenos mais sensacionais que já puderam existir como os afetivos e sentimentais. A ciência já nos contemplou com muitas conquistas, menos a justificativa de tamanha afetividade que todos nós temos uns pelos outros. Dessa forma, estamos completamente interligados e talvez até, em determinadas mentes, "incomodados" com o fato de termos que admitir não só para os outros, mas para nós mesmos, que sim, precisamos, necessitamos - mais do que qualquer outra coisa – de contato, afeto, carinho, amor. A vida não é só um rio de amargura. É uma experiência inexplicável que deve ser aproveitada intensamente, mesmo que para essa experiência valer a pena você precise provar o quanto não teme por querer tanto alguém.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Descrição de uma noite perfeita

Ouvi um barulho de chave na porta
e achei que fosse você
encenei com cara de coitada uma cólica
e desliguei a tevê

Mas não era você
era a força do vento contra a fechadura
e alguns poucos barulhos que pareciam frescura
voltei a dormir me perguntando "cadê?"

E quando acordo, olho para o lado
vejo uma mão na minha cintura
um "não se assuste!"sussurrando baixinho
impossível me assustar, com tanta alvura!

Me entreguei aos teus braços
de um jeito incrível
que toda vez que lembro desse momento
da cabeça aos pés me arrepio

O teu cheiro exalando nos meus lençóis
nossos beijos ofegantes silenciando a voz
o teu jeito entorpecente de ser tudo para mim
que transparece loucamente nos meus olhos
que também te beijam tão luzentes assim.
Estamos sóbrios e bonitos
cada vez mais jovens e esquecidos
perdidos na maior das utopias:
a da vida, bendita vida!

Asas, chão e mãos

A vida nos da asas
mas também nos da o chão
e, inclusive, nas mãos
para quando cairmos do vôo
podermos nos levantar
com a mão que se estende
para a vida voltar a brilhar
basta sabermos aproveitar
o que tantas vezes
por entre os dedos deixamos
arduamente passar.

Fumaça

Momentos bons
são como fumaça
rapidamente passam
às vezes nem deixam marcas.

O brilho que fica
é como o da lua
que arde no corpo
como um quebrar de vidraças.

Se sente vontade de voltar
mas a vida nos contempla
com outras tantas e tantas fumaças.