sábado, 29 de setembro de 2012

- a voz sussurra.

Eu vejo teus olhos remelados acordando agora. Vejo teu corpo sentado na cama absorto. Vejo teus dedos se alargando. Vejo teu rostinho lindo gritando que me quer, que me quer, que me...  E me procura, e sai correndo. E tenta. Eu tô aqui, eu tô aqui - a voz sussurra.



"Queria, por um dia, conseguir mudar
Deixar de ser errante, por um dia, não andar
Eu tenho uma ferida de cada lugar
Em que deixei guardada a solidão
E agora, o rosto no espelho eu não conheço mais
Não tem volta, e tudo que me resta é prometer
Não pretendo te iludir, dizer que isso vai durar pra sempre
Não pretendo te enganar até o meu coração não bater mais
Há muito tempo eu aprendi, nem mesmo a nossa morte é permanente
O tempo vai se encarregar de tirar a minha e a tua paz"
Lebruce, Visconde.

Base

A vida se baseia nos princípios da arquitetura: planejar e construir casas, edifícios, etc. Para isso precisamos de uma base. Na vida real, essa base é o que nos rege e nos dá força. Eu poderia dizer inúmeras vezes: "eu amo você, eu quero você", mas é inevitável pensar que sempre existirá um certo dia que realmente faça essas palavras nos impactar com muito mais força do que o normal. Fomos alvo da imperfeição de um arquiteto. Somos uma construção um pouco mais evoluída do que o normal (ou não), e precisamos de uma base para nos erguermos. É como a China ou o Japão, países que são aterrorizados com grandes impactos tectônicos e exatamente por esse motivo os arquitetos prezam por uma construção cuja base é mais segura que o normal. Quando as pessoas passam por esses tormentos e estão em um lugar construído "à prova de terremotos", o sentimento protetor de estarem em um lugar acolhido e seguro é ainda mais intenso. Quando estamos com nossa base intacta, estamos de bem com nós mesmos. E não importa se fomos alvo de um arquiteto imperfeito, se o que há de melhor nessa vida é justamente a imperfeição. Eu ainda sou a sua base? Reflita bem.

Metástase

Talvez eu realmente tenha perdido aquele ar doce, meio distorcido e acumulado de tesão ou seja lá o que for. Eu sei que algumas coisas vão embora, outras ficam, e mesmo assim ainda não há conformidade. Não fui feita para contrariar os princípios da vida, sequer para contrariar os meus próprios princípios. Seja lá o que for que nos importe agora, não há nada que me importe, não há nada que me comova. Talvez eu realmente tenha perdido alguma coisa. Talvez só agora, depois de tudo, eu consiga falar, mas sabes, assim como perdi também me sinto perdida, compreende? E essa perdição não pode ser justificada pelas ações do vento, do mar, da vida. Não posso culpá-la por estar perdida. E também não posso culpar você porque também se perdeu comigo. Enfim, somos alvos (e continuamos sendo) da contradição, da garra, do dever não cumprido. Isso soa tanto como uma metástase agora. Soa como uma doença não tratada devidamente se espalhando por nossos corpos nus, deteriorando quaisquer elementos que percorram nosso sangue, acabando com a vida celular, multiplicando nossos genes. Como uma doença auto-imune. Como um apocalipse dentro de nós. É o que parece.