segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Voar

Então marquei meu voo. A passagem é somente de ida. Até pensei em ir de ônibus, mas minha pressa de sair do lugar é maior do que minha vontade de aproveitar a viagem. E estou arrumando as malas, filtrando cada cheiro indesejável que possa me lembrar das tuas manias e gestos; cada mínima peça de roupa que eu já usei perto do teu corpo - e reviro tudo, aos berros, tentando não encontrar algo que reaviva minha memória, eis que decido: não levarei malas. Sem celular, sem computador, sem nada. Só carrego a forte emoção de uma meia vida compartilhada, com histórias boas e bonitas e engraçadas pra contar. Cheguei a pensar que envelheceríamos juntos. Que, em um determinado intervalo de tempo, poderíamos visitar nossos filhos já adultos, poderíamos viajar ao redor do mundo inteiro e ganhar o mundo também. Falta pouco, mas como disse, tenho pressa. E minha pressa é o que me prende aqui agora, extasiada, com os dedos e olhos cansados, marejados, deslocados. A noite que tem sido uma grande aliada, me deixando sobreviver aos mistérios que esse escombro me impede de enxergar nitidamente. E sem malas, sem nada, me vou aos poucos, com um nó na garganta que arde até mesmo a alma, sufocando o meu maior bem: meu coração. Mas sei que deixo lembranças, cartas, sorrisos perdidos por aí. Sei que a estrada continua a mesma e que a velocidade da minha aeronave está bem acompanhável. E sei que vou continuar sonhando nas nuvens com essa mesma história, disfarçando com o vento nos cabelos que eu não queria ir, que eu não precisava ir.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Sinto-nia

Vem que eu te cuido, te mimo e te faço um cafuné. Até te acordo manhã cedinho, te dou café na boca e te levo pra dar uma volta na praia em um dia ensolarado. Vem que eu tenho pressa de estar contigo, do teu lado, te cuidando, te mimando, te fazendo cafuné. E tenho pressa de repetir essas pequenas palavras, já que no momento são elas que me restam e me acompanham. Não sei se consegues ver, mas daqui desses meus diamantes azuis eu consigo avistar um farol. O cais até pode estar distante, mas nada é impossível quando a gente enxerga com olhos de diamantes. Vem que eu tô até rimando, cambaleando pra te esperar. E tô feliz em sentir que tu vais voltar. Eu sei que eu não passo de uma poetisa de privada, que meus versos são pobres e minhas rimas ricas em distorções otárias, que eu te enrolo com o meu pensar louco e frustrado, mas que são do fundo do meu coração esburacado. Por fim, por mim e por ti, te encontro na luz do farol que meus olhos vem, na perfeita sintonia que meu corpo estremece, que a minha e a tua mente sejam eternamente ligadas por esses versos que hoje abastecem o meu e o teu coração.