Tudo que não rima com amor, rima com tristeza. E dentre todas as
coisas que rimam com amor, você é a que mais rimou comigo. Tens bons
gostos: Chico, Zé, Nando… são tantos nomes e trilhas, tantas caras e
bocas e palavras não ditas, mas que ficam nas entrelinhas do vai e vem
dos nossos olhos. E por falar em olhos, minha pupila dilata quando te
enxergo e, embora não percebas, quase sempre penso em ti (é por isso que
quase nunca olho nos olhos – entregaria fácil o quanto gosto do teu
charme). Já falei das estrelas? Ou do quanto tu rima com elas nos breves
flashes de luzes que incendeiam nas noites em que o luar não predomina?
Já falei dos teus tons, sons, grooves e blues? Ah, me desculpe,
querida, eu deveria estar em Nárnia. (…)
Mas pressuponho que te irrita facilmente os meus desaparecimentos e
minhas constantes crises existenciais. Pressuponho que te aflija,
atinja, incomode. Pressuponho que minhas justificativas são incoerentes e
confusas. Pressuponho que tenta me entender, mas não consegue (e teria
como o fazê-lo?). Pressuponho tantas coisas e queria, realmente queria,
fazer alguma coisa a mais a não ser lhe escrever sobre as nossas
aventuras distantes, mas os dias tem sido tão difíceis para mim que
qualquer sirene tocando eu já saio pulando de alegris pensando ter,
finalmente, passado para a fase do “paraíso”. Pois bem sabes: tudo que
não rima com amor, rima com tristeza. E não, não estou triste pelos
outros ou pelo que era para ter sido mas não foi. Estou triste porque as
pessoas são más, porque não gosto mais de filmes românticos, porque não
consigo escutar as mesmas músicas de antigamente, porque me sufocam os
verões. Estou triste porque as ruas continuam as mesmas e eu não consigo
cruzá-las da mesma forma. Triste porque me sinto sozinha quando rodeada
de vozes cantantes. Triste porque eu deveria me surpreender menos e
admirar mais. Triste porque estou cansada. Enfim, triste: uma relação
paradoxa do meu eu com meu mim, compreendes?
E dentre todas as coisas que rimam, sei que o amor e a tristeza fazem
parte do meu verso. E sabes bem que meu show é ao vivo e a cores, de
preferência acústico. E sabes mais bem ainda que cantar Chico é o mesmo
que se enterrar nessa fossa. Só não sabes que num desses poços de
lágrimas existe alguém que quer levantar, se erguer e cantarolar com as
vozes cantantes; e fazer parte do teu luar e das tuas cores; e sonhar
com um mundo tão nosso sem pessoas más.
Ah, me desculpe, querida, por andar tão solta e te deixar sozinha,
por não conseguir seguir teus passos e me perder na solidão. Chico me
ensinou que amanhã vai ser outro dia, que eu vou poder correr pra te
acompanhar, mesmo nas ruas que eu não conseguia cruzar.