quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Nostalgia

Eu ouvia Something, dos Beatles, e pensava em hipóteses, possibilidades de coisas que não poderiam existir. Eu dormi a maior parte do tempo e acordava às vezes, bem de vez em quando, para ver a minha ferida aberta e em seguida me debruçar na cama e repetir incontáveis vezes "ah, ainda não cicatrizou".  Eu dormi a maior parte do tempo e, para ser sincera, cheguei a um estágio de não ver as horas passarem. Eu esqueci nos primeiros dias, voltei a me lembrar meses depois, logo esquecia mais uma vez por algumas horas... E sempre foi assim, com o mesmo velho sorriso no rosto. Tinha dias que eu acariciava o travesseiro. Cheguei a adotar uma cadela só para ver se minha carência de amor passava, mas logo percebi que ela era recíproca, pois a cadela é mais carente que eu. Algumas vezes eu sonhava com minha vida quase-perfeita de quando eu era criança. Me lembrava de momentos que eram tão indefesos, mas que hoje eu daria tudo para voltar neles e brincar mais uma vez minhas brincadeiras. Hoje eu brinco de consertar cacos, juntar vidros quebrados e colocar no lixo, de cortar minhas mãos com aqueles pedacinhos que quase não enxergamos. Hoje eu ouço rock'n roll e esqueço-me das músicas depressivas que antes me contagiavam. Não durmo tanto. Não acaricio o travesseiro e recebo muito amor da minha cadela. Agora, quando a nostalgia começa a buzinar para dizer que está chegando, mudo o foco, mudo o rumo, mudo a estrada. O caminho de felicidade é sempre o mesmo, mas o atalho por onde eu cruzo muda constantemente.

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