terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Sobre cativar e responsabilizar

Talvez eu devesse entender que a cada caminho trilhado encontrarei pedras e cacos de vidros de garrafas de vinho tinto seco ao chão. Talvez fossem cacos de corações vazios apunhalados pelo desejo incondicional de amar e se aprisionar nas correntes de outros corações que pouco se importam. Entendo que a culpa de tudo não é o amor e que geralmente as pessoas o utilizam como uma metáfora desonesta para responsabilizar suas insanidades platônicas. Mas o que me intriga, diante de toda essa essência eventualmente minha, é que as pessoas não se sentem responsáveis pelo outro que cativam. Que não se arrependem das palavras que não deveriam ser ditas, nem subentendem em seus gestos e expressões um pingo de pena, apreço ou carinho. Sobre o que cativamos, apenas me resta perceber que não haveria lógica, cabimento - ou qualquer outra palavra que coubesse expressar o que quero dizer - em se ter corações partidos, quebrados, e seus cacos sendo pisados em chãos imundos que provavelmente diversos bêbados já vomitaram ou tropeçaram. Hoje vejo o amanhecer sem ao menos ter dormido. Vejo a chuva sem ter visto o sol. Vejo o céu sem ter visto as nuvens. É tudo ou nada. São coisas distantes que nos colocam sempre no mesmo caminho: aquele que tem pedras, cacos de vidros e corações vazios. Não vejo sentido na vida se não encontrar outra curva que nos leve para longe de pessoas desnorteadas com suas vidas de abutres ou vampiros sugando até mesmo o que o outro não tem. Desperdiçando até mesmo o que o outro não pode dar. Não culpe o amor. Responsabilize as pessoas, pois elas magoam, pisam, matam, desorientam - quando amam. 

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