quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

E eu espero

Nasci a um pouco mais de 15 anos atrás. Diziam que eu era uma grande criança que adorava brincar de boneca e falar sozinha. Diziam tantas coisas sobre mim. Não era muito arteira, não era muito chata, não era muito fresca. Cresci aprendendo o certo e o errado na marra, na surra mesmo. E aprendi, entre troncos e barrancos. Não lembro-me muito bem de como foi ocorrendo essa transição de criança para adolescente, mas sei que não demorou muito. Na verdade, pra mim tudo sempre foi tão rápido. Parece que eu nasci antes de ontem, cresci ontem, e hoje estou aqui. Talvez eu não tenha aproveitado tanto a minha pequena infância. Talvez eu só tenha desfrutado de momentos como os jogos de futebol na esquina com os garotos da minha rua, a primeira vez que eu aprendi a andar de bicicleta, a primeira vez que eu escrevi meu nome na escola e alguns sorrisos trocados, algumas poucas palavras inocentes. A infância sempre foi tão linda. As descobertas também. Os anos passando, a vida correndo... As borboletas e o azul do céu. Os abraços e beijos de pessoas que já se foram. Falando nisso, lembrei de alguém que eu costumava ir tomar chimarrão principalmente nos dias frios desse glorioso inverno do Sul. Creio que esta pessoa ainda olha pra mim - mesmo que lá de cima - com o mesmo olhar de quando eu era criança. Lembrei também, casualmente de outra pessoa, porém esta ainda se encontra nessa dimensão. Eu costumava ir na casa dela para brincar com o seu neto, meu melhor amigo na época. Acho que é uma das poucas e belas pessoas que me quer bem. Fez parte da minha vida e conquistou em mim uma incrível admiração. A gente nunca costuma lembrar dessas pessoas no dia-a-dia, mas sempre é bom vasculhar o nosso livro de memórias. Ah, foram tantas pessoas. Ah, foram tantas poesias, músicas, olhares, filmes, vidas. Foram tantas vidas, sim. A gente tem inúmeras vidas, se formos analisar. A nossa, a de nossos amigos, a de nossos familiares, a de tantas pessoas que nos importamos. Somos a vida de tanta gente, mas não somos de ninguém. Há um tempo atrás, se eu existisse e dissesse tudo o que eu penso sobre o mundo na época, certamente seria sacrificada e idolatrada pela maioria da população. Há um tempo atrás, se eu dissesse que eu era a vida das pessoas, elas iriam rir da minha cara. Iriam ironicamente rir. Porque ninguém aceitava ser a vida de ninguém. Ninguém aceitava amar alguém. Tudo era feito com algum propósito maior, alguma segunda intenção. Hoje não. Hoje eu falo de amor, sofro preconceito por isso, mas nem assim conseguem me calar. Hoje eu ouço Fresno, canto e idolatro suas músicas e digo e repito: são os caras mais fodas da minha vida. Hoje eu faço o que eu quero. Eu sorrio a hora que me der vontade de sorrir. Eu amo quem meu coração permitir, não distinguindo raça, cor e até mesmo sexo. Hoje eu sou mais feliz por ser quem eu posso ser. Por ter a minha vida e a de mais ninguém. Por fazer alguém sorrir também. Hoje eu vivo. Sem tirar nem por. Viver é algo que poucos conseguem fazer e por isso dou graças ao Cara lá de cima por ter aprendido a viver depois de um ano horroroso que se passou. Foi-se embora o pior ano da minha vida e eu sobrevivi. Tem conquista maior do que ultrapassar mais um ano?

E eu espero o próximo. Eu vou viver mais.

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