domingo, 10 de julho de 2011

Texto para ler em voz alta

Até mesmo as flores se vão. Desabrocham no brincar do tempo que muda constantemente. Nos invadem e sufocam com seu cheiro vasto de eu-sou-apenas-uma-pobre-flor e nos torturam com sua inocência mútua. Descompassadamente a gente se perde no vão dos versos que nos descrevem tão mais bonitos e cheios de vida. Quando resolvemos não olhar no relógio, o que parece intenso se torna tão irreal e breve, na mesma proporção que perdemos flash's de nossas vidas por termos evitado uma possível piscada que deveria ser espontânea. Arduamente tentamos e tentamos e tentamos colocar os pingos nos 'i's, os pontos finais e qualquer vírgula que esteja no lugar errado. Nos autocondenamos prisioneiros de aspas cujas palavras contidas dentro não existem no nosso vocabulário. Fazemos absolutamente tudo para que não façamos sentido algum, mesmo que tudo o que dizemos está literalmente claro. Nos perdemos nos bares, esquinas, quartos-de-hotéis-após-uma-transa-não-muito-agradável, nas estações, na biblioteca ou em finais de histórias em quadrinhos. Nos encontramos em constante instabilidade à procura do emprego bom, namorado (a) perfeito, carro da hora e uma mansão com piscina para levar os amigos. Distintamente nos convencemos que - após um processo longo de autoavaliação diretamente do nosso subconsciente - estamos todos sob o mesmo céu sujo de azul desbotado e cinza triste, no aguardo do paraíso que tanto nos prometem há anos. Logo nos habilitamos a sermos cheios de esperança e pacientes, quando se trata do motivo pelo qual sorrimos ao acordar. À sombra de que nos derretemos com o primeiro amor no mesmo modo que nos entregamos ao primeiro porre de vinho suave, toleramos qualquer tipo de equívoco que hoje, com os olhos mais maduros, achamos extremamente ridículo e estrambólico. É ensurdecedor, eu sei, mas não ache lindo cair no chão por culpa do álcool que nós mesmos criamos. Bebemos do nosso próprio veneno e gostamos disso até conhecer o dito "paraíso" através de uma viagem muito longa que certamente não vamos enxergar, já que estamos cegos e não há mais cura para a nossa doença.

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