domingo, 14 de agosto de 2011

Um café amargo em plena madrugada

Um café amargo em plena madrugada. Não pedi mais nada. Isso me bastava e me bastou para aguentar a madrugada fria e intensa de Porto Alegre, o que era sufocante e exaustivo para alguém como eu. Inteligentemente quis me apresentar à camareira do hotel, a fim de conseguir um melhor quarto que cobrisse com todas as minhas despesas. Não sei se deu certo. Ela não mais voltou depois da nossa conversa bastante desastrosa e engraçada. Eu moro no interior, mas às vezes preciso dar uma viajada para divulgar as coisas que escrevo. Sim, sou escritor, mas raramente admito isso a mim mesmo. Eu gosto dela. Aliás, desde que a vi, gostei dela - a camareira. Achei-a interessante e com um papo pra lá de excitante. Era charmosa e o seu perfume era muito adocicado, o que foi o ápice por eu não tê-la agarrado logo quando a vi (não gosto de perfumes doces). Pena que ela não voltou. Esperei por uma semana, dia e noite - manhã, tarde e madrugada, mas ela não vinha. O que me manteve ali era a vela acesa de uma esperança que não fora apagada. Ela não me disse "não". Ela não me disse nada relacionado à "não vou voltar mais aqui", ou qualquer outra conjunção de negação. Por isso que eu estou aqui agora, neste quarto de hotel, com a TV e um notebook ligados. Ninguém no outro lado da rede. Ninguém no outro lado da cama. Permaneci ali por mais uma semana, até ser provocado por um sol muito charmoso e brilhante que numa manhã de segunda-feira fez questão de acontecer. Meus olhos estavam ardendo demais pelas noites mal-dormidas, mas meu corpo necessitava de luz e ar novos. Consegui. De longe eu vi perto à piscina - roupa branca, cabelos encrespados e olhos vibrantes - eu vi, eu a vi! Fiquei tão feliz! Meu sorriso que já permacera petrificado desde o último dia que a vi, voltou a encenar-se no luzir dos meus olhos. Eu quis tanto chegar perto dela. Eu quis tanto saber como seria se eu tocasse sua pele e fosse surpreendido por talvez um tapa na cara ou um gesto recíproco. Eu quis tanto escutar a sonoridade da voz daquela camareira linda, tão linda... Mas minha consciência se sobressaiu. Eu era só mais um dos escritores perdidos no mundo e ela era uma camareira que nasceu para brilhar. Quis voltar pro meu quarto, fazer minhas malas, sair já dali, mas só quis. Continuei a observando e, mesmo que de longe, pude notar que o seu jeito de andar era relativamente parecido com o de incríveis modelos que se destacam no enrolar-se dos pés e no jogo de cintura. Também notei que sua face me trazia uma ideia de fragilidade e suavidade. Então, no perder dos meus pensamentos condensados pelas tuas imagens, a perdi de vista novamente. Meu sorriso petrificou mais uma vez. Abaixei a cabeça e andei até o meu quarto de hotel. Passos silenciosos e tristes no obscuro caminho que já não me levava mais a lugar algum. Passaram-se horas e eu continuava tentando descrever as incríveis sensações que eu tinha ao ver aquela mulher. Já era madrugada e o frio em Porto Alegre estava cada vez mais congelante. Resolvi pedir um café através do serviço de hotel. No outro lado da linha telefônica se encontrava uma voz formosa e calma, serena como a noite em que nos encontrávamos. Pedi o que eu queria, mas ela dissera que não havia mais açúcar no local, então afirmei que não haveria problema, pois café amargo nunca foi ruim para mim. Em menos de cinco minutos o café chegou. Abri a porta do hotel e fiquei nervoso. Minhas pernas tremiam demais que eu mal conseguia me equilibrar. "Era ela, era ela!!" - eu repetia para o meu subconsciente inúmeras vezes. Eu queria que ela entrasse no meu quarto. Eu queria poder conversar com ela de novo. Eu queria que ela soubesse das coisas que eu sinto quando a vejo. Queria que ela não se sentisse uma simples camareira, mas sim a estrela mais brilhante do universo. E por isso, por eu a querer tanto, pedi que ela entrasse, pois eu precisava dizer-lhe algumas coisas. Ela não entrou, só me disse "não hoje, não mais, nem nunca, jamais". Guardei isso contra o meu peito. Tomei todo o café amargo que ela poderia ter adocicado com seu perfume de flor, o que não fez. A perdi contra o céu que a levou no amanhecer para só assim perceber que ela era doce demais pra mim.

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