quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Poçal

Ouvi a porta tocar. Atendi o interfone. -Encomenda da internet para Fernanda - disse o motoboy. Achei que fosse de você pra mim. "Eu não encomendei nada", pensei, surpresa, mas feliz. A minha encomenda do mercado livre chegou mais cedo. Fiquei triste. Achei que fosse mais uma das tuas surpresas quietas, daquelas que eu não desconfiaria de forma alguma. Não era. Era só o meu anseio relutando em acreditar que ainda exista algo para eu esperar de ti e de nós. Não existe mais.

O que temos pro café da manhã? Um pão, talvez um café passado, ou meu coração num prato bonito qualquer?

Sai e fui tomar uma cerveja num bar. Não era um bar qualquer. É daqueles pertinho de casa, que a cerveja é gelada e tem cinzeiro. Estava chuviscando. Sentei na mesa de fora, mesmo assim, pois precisava de um cigarro também. Depois do meu flagra poçal que dei em mim, não havia o que eu não precisasse de consolo. A moça do bar perguntou "Dois copos?". Sofri com esse questionamento. Respirei fundo e me recordei que possivelmente ouvirei isso em todos os lugares que fomos. Não, apenas um - respondi.

Será que os barulhos dos carros refletem o teu barulho chegando a mim? Escuto teus sons.

Antes disso tudo eu estava em casa, afogando minha dor limpando qualquer coisa que eu visse pela frente. Ouvi o barulho das tuas chaves, mas não era você. Ouvi o barulho dos teus sapatos, também não era você. Por que ainda me pego, depois de tudo, depois de todos os meus pensamentos positivos de que conseguirei seguir em frente, por que me pego pensando nisso?

Pedi outra cerveja. Confesso que com uma eu já fico palpitante. Ainda chuvisca em mim. Sentei debaixo de uma árvore e foi quando eu me vi sentada nas margens do rio Piedra, sabe? Aquele rio que eu sentei e chorei - em outra ocasião que não cabe a mim explicar, mas sim Paulo Coelho. É daqueles livros que eu insisti em ler até o código do bibliotecário. Porque sim, eu sentei e chorei. E queria ter me visto nessa cena, num bar qualquer, sem ninguém ao meu redor, chuviscando - literalmente - pelos olhos.

Hoje eu escrevo sobre como lidar com sentimentos de ansiedade. Escrevo sobre como sobreviver ao caos alienígena e intolerante. Escrevo sobre a dor da ausência (ou da onipresença?). Escrevo sobre me sentir viva, ao passo em que algo em mim morre cada dia mais. Eu sou a minha própria maré. E estou abaixando.

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