terça-feira, 10 de agosto de 2010

Longa Infância

Muitos pensam: ficamos nove meses dentro da barriga de nossas mães desenvolvendo-nos e sendo assim, tornando-nos gente, humanos, pessoas. A partir daí, começam as complicações. Nascemos, vivemos nossa longa infância que fica marcada na primeira palavra falada, nos primeiros gestos afetivos, nas brincadeiras, nas aprendizagens que não são poucas. Aprendemos que não é certo bater em amigos, falar palavrões, desrespeitar os mais velhos e responder alto aos nossos pais. Crescemos, conhecemos novas pessoas, nos surgem espinhas em todo o rosto, passamos por uma fase que a maioria dos pais costumam chamar de “aborrecente”. Nos irritamos facilmente, nos apaixonamos facilmente, nos machucamos facilmente. E sim, também temos grandes aprendizagens, como de sermos mais calmos, compreensivos, maduros e termos nosso tempo de realmente gostar de alguém. Aprendemos a não banalizar o “eu te amo”, a agir de forma responsável e também a fazer comidas. E depois vem a fase das experiências, do trabalho, da hora de pensar apenas no futuro e em tudo o que vai marcar pra sempre a nossa imagem, o nosso caráter, a nossa honestidade. Saem-nos algumas rugas, algumas marcas que o tempo deixa no nosso corpo sem que percebêssemos. Passamos a sair menos, assistir TV mais, a tomar mais de um banho todos os dias, a comer sopa no jantar, a sentar na frente de casa para tomar chimarrão e ver quem passa na rua. Ficamos sempre a espera do dinheiro da aposentadoria, da visita de um filho, de um amigo, de um irmão para nos cuidar quando a doença nos atinge, nos mata aos poucos. Viramos crianças de novo, pois necessitamos ainda mais da ajuda de alguém, no entanto, não temos mais nossos pais, nossas avós para que dessem comida na boca, remédios, carinho e atenção. Não temos mais ninguém que possa nos ajudar. Talvez a velhice seja isso, uma eterna infância, um reviver da ingenuidade de precisarmos de alguém, uma espera, uma expectativa e uma só esperança.

2 comentários:

  1. O rumo do tempo, se parar para imaginar, tu daqui alguns simpáticos 50 anos, tu tens um corpo "transformado", na mesma alma, e ainda carregando milhares de imagens e passagens que teve em sua vida. A maioria das pessoas, esperam a vida passar. É uma sensação de estar sempre no mesmo lugar.
    Gostei da reflexão!

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