sábado, 2 de abril de 2011

Um desabafo do doce outono

Costumo acordar cedo, levantar atordoada da cama, escovar meus dentes, pentear meus cabelos, ligar a chapinha na tomada, encontrar - em alguma parte do meu guarda-roupas - uma camiseta qualquer, uma calça jeans limpa, e ainda, alguma meia que não esteja rasgada, de preferência também limpa e junto com o seu outro par que, óbvio, só pra contrariar, está sempre longe dela; voltando ao início, eu pego a chapinha e passo em algumas partes do meu cabelo desajeitado, seco, sem brilho, tiro ela da tomada e coloco em algum lugar que não pegue fogo; vou até a cozinha e esquento a chaleira pro meu chimarrão da manhã, claro, que gaúcho é esse que não toma chimarrão de manhã? tomo um café, vez'enquando, só pra não ficar sem nada no estômago, coloco meu all star e saio porta afora; analiso cada nuvem que encontro no céu que, quase sempre, está ensolarado; observo pessoas, reações, fumaças, carros e animais e, mais ainda, observo olhares que quase sempre estão corrompidos por alguma coisa ainda não explicada, alguma dúvida na cabeça, algum amor não correspondido, algum problema familiar, alguma sensação de angústia e dor, e fico, sim, eu fico meio que irritada com essa coisa de sentir tudo o que uma pessoa sente ao enxergar os olhos dela e a adivinhar tudo o que um coração sente, isso não existe, isso é pura besteira, não há como sentir e ver o que há dentro de outra pessoa se você não se torna parte dela, e essa coisa de essência também, não existe, não somos uma essência, não somos um produto químico ou algum perfume produzido em farmácias, somos seres humanos, somos um parte de outro e sempre vai ser assim, somos movidos e co-movidos pelos outros e não há nada que se possa fazer, não há ciência que duvide disso, e eu sorrio, sim, eu sorrio, andando pelas ruas, movida e co-movida pelas pessoas, pelas dores de amores não correspondidos que encontro em olhares, pelos carros e animais, pelas sensações e inconstância desse mundo que, sinceramente, foi a melhor coisa que inventaram.

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