Então marquei meu voo. A passagem é somente de ida. Até pensei em ir de ônibus, mas minha pressa de sair do lugar é maior do que minha vontade de aproveitar a viagem. E estou arrumando as malas, filtrando cada cheiro indesejável que possa me lembrar das tuas manias e gestos; cada mínima peça de roupa que eu já usei perto do teu corpo - e reviro tudo, aos berros, tentando não encontrar algo que reaviva minha memória, eis que decido: não levarei malas. Sem celular, sem computador, sem nada. Só carrego a forte emoção de uma meia vida compartilhada, com histórias boas e bonitas e engraçadas pra contar. Cheguei a pensar que envelheceríamos juntos. Que, em um determinado intervalo de tempo, poderíamos visitar nossos filhos já adultos, poderíamos viajar ao redor do mundo inteiro e ganhar o mundo também. Falta pouco, mas como disse, tenho pressa. E minha pressa é o que me prende aqui agora, extasiada, com os dedos e olhos cansados, marejados, deslocados. A noite que tem sido uma grande aliada, me deixando sobreviver aos mistérios que esse escombro me impede de enxergar nitidamente. E sem malas, sem nada, me vou aos poucos, com um nó na garganta que arde até mesmo a alma, sufocando o meu maior bem: meu coração. Mas sei que deixo lembranças, cartas, sorrisos perdidos por aí. Sei que a estrada continua a mesma e que a velocidade da minha aeronave está bem acompanhável. E sei que vou continuar sonhando nas nuvens com essa mesma história, disfarçando com o vento nos cabelos que eu não queria ir, que eu não precisava ir.
Adorei o post... Talvez porque encontrei um pouco de mim nele. Mas nesse caso, eu fui quem ficou no aeroporto. Bonito, de qualquer forma!
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