sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Sonhíferos

Acordei. Acordei e olhei ao redor para ver se eu ainda estava deitada na mesma cama. Me remete momentaneamente na cabeça cenas desfocadas de libélulas e luz, muita luz. E em outros instantes eu vejo essa mesma luz se desorientar e expandir na escuridão em inúmeros e pequenos feixes. A vida corre e a intensidade da expressão em que me refugio dormindo também some. Durmo.

Dizem por aí que os sonhos são sempre nossos maiores bens, que devemos nos agarrar em cada um deles como se fosse nossa última alternativa de sermos, por fim, felizes. Eu tenho todos os sonhos do mundo também, Fernando. E tenho todos eles enlaçados entre os dedos. Às vezes sinto que eles escorregam das minhas mãos, mas são instantes tão breves que nem se quer me preocupo – o que é meu, por direito, sempre volta. 

Acordo. Ouço os relâmpagos da tempestade que devasta tudo o que a cerca. Desta vez apalpo a cama para ver se ainda estou deitada nela. Estou e a tempestade é dentro de mim. O mais errado disso tudo não é o fato de eu ter acordado e finalmente percebido que a chuvara com a qual eu tanto me acanhava era dentro de mim, mas sim por saber que talvez o arco íris demore para chegar e que, sem querer, a chuva não molha só o meu corpo. Durmo.

Os sonhos são pesadelos que deram errado. Porque na verdade a vida não passa disso: sonhos que deveriam ser pesadelos, mas no ato não o são. Nem aqui, nem aí. Tu não enxergas. Os sonhos são mutáveis, piores que o hiv atuando na corrente sanguínea. Patologicamente falando: não morremos de AIDS, morremos de doenças oportunistas. Resumindo: não morremos de amor, morremos de outros sentimentos oportunistas.

Acordo e durmo. E sigo assim, até que os sonhos dos quais eu tanto prezo tenham realmente alguma direção definida, com horário e local de chegada e partida.

Não subestima teus sonhos, rapaz. Mesmo que a gente não encontre razões para que eles continuem vivos. Sonha mais, cada vez mais. Porque o sonho é um sentimento oportunista e antes morrer por um sonho do que por amor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pela presença. Seu comentário vai ser lido com muito carinho. Volte sempre!