segunda-feira, 13 de julho de 2015

Antes da estação passar

Eu saberia se o mar mais longe que eu vejo é, de fato, um mar? Não seria um rio ou um lago esquecidos diante dos nossos olhos?

Era tão doce e indescritível acordar amortecida pelos teus gestos. E chegar a levantar, colocar as calças, vestir a blusa e a jaqueta porque estava muito, muito frio - todas as manhãs, de todos os dias ou a cada hora e a cada instante querer por si só, chegar e partir, dormir e acordar, sonhar e viver. É que me dá uma angústia não ter um local definido para ficar, definitivo para amar e querer, talvez, muito meramente talvez, construir alguma coisa nesse lugar que eu sonho, que a gente enxerga nos nossos sonhos, que a gente segue nessa linha sem-volta-guiadora-dos-caminhos-de-Nárnia. E queria, algum dia - não precisa ser hoje - pode até ser amanhã - eu queria, juro que queria, pendurar tua jaqueta assim que chegastes no nosso lugar e tirar teus sapatos, te oferecer chá ou café, ou até mesmo alguma bebida alcoólica, quem sabe fumarmos um cigarro juntas? Nossa, seria um coisa tão aconchegante, confortável e, não sei, e alguma coisa palavra que expresse toda essa coisa... não sei... tudo, tudo, tudo. 

Mas é que a gente sabe que as coisas demoram. A gente aprendeu que o tempo vem sozinho e passa tão rápido que temos que apanhar com as nossas mãos as maçãs dos seus pés antes que a estação acabe e não tenhamos mais frutos. Então aguardamos, enquanto o tempo lhe convém, o nosso lugar longe daqui. Esperamos a estação cruzar, certo? Quero dizer, que o tempo soe rápido para nós também, compreende?

Ainda estou em dúvida... eu saberia se o mar mais longe que eu vejo é, de fato, um mar? Eu saberia que o meu tempo também é o teu tempo e que a gente tem que apanhar o fruto antes da estação passar?