quinta-feira, 30 de junho de 2011

"Ou"

Sou um "ou" na tua vida
ou não passo de uma vírgula embutida
em uma frase sem sentido
que tu fez sem motivo?

Sou o reflexo dos teus beijos
ou só mais um dos teus feitos
que tu guarda no fundo do armário
e só tira quando se sente solitário?

Sou aquelas tuas canções
ou apenas alguns meros refrões
que não se encaixam
com os acordes que se espalham?

Sou as tuas portas se fechando
ou o teu eu em mim pensando
ou o 'ou' da tua vida
que tanto me alucina?

terça-feira, 28 de junho de 2011

Que coisa, ein?

Que coisa, ein?
agora eu sento perto da lareira
pra sentir o calor do fogo
e não mais o do teu corpo

e hoje em dia eu canto a tua ida
pra desconhecidos te ouvirem
sendo cantada como um hino
por alguém que mal viu tua partida

e que coisa, ein?
eu te enxergava nas estrelas
e o brilho delas era tomado pelo teu
mas agora nada mais vejo e tudo se tornou museu.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

E se? (continuação de Deixar Passar)

E se em alguma lápide
estar meu nome
e o meu último retrato
que tirei para ti?

E se a tua breve visita
me deixou aos prantos
me corroendo com o frio
que tu não tirastes de mim?

E se no meu nome não existir
teu sobrenome
para completar os planos
que tanto construímos aqui?

E se tudo o que eu faço
e tu não enxergas, passar em branco
e tu sofreres posteriormente
por não ter escolhido a mim?

E se teus olhos querem me ver
e se tua boca quer me beijar
por que não deixa que teu corpo grite
e esbraveje o que não quer calar?

E se a lua e os astros conspiram
ao nosso favor
por que insiste em acreditar
que um desejo é mais que amor?

E se a tua escolha estiver errada
e eu não estiver mais aqui
quando a tua ida tiver uma volta
mas a minha ida só tenha passagem para ir?

E se eu lhe dissesse o quanto ainda penso
o quanto há sentimento
faria alguma diferença se tu soubesses
o que há aqui dentro?

E se eu não quiser ou então não aceitar
as tuas meras palavras monossilábicas
que só me fazem pensar e pensar e pensar
no quão pequeno teu universou voltou a ficar?

domingo, 26 de junho de 2011

Sobre a dor

E eu gostava de tocar no seu cabelo, admirar a sua bela face, pegar na sua mão, lhe abraçar quando me convinha, lhe beijar quando eu quisesse sentir sua respiração mais ofegante, olhar nos seus olhos esverdeados e nas suas pupilas grandes. E dentre tantas outras coisas que eu gostava em você, tinha (e ainda tem), uma em especial: o sorriso. Era dele que eu falava para praticamente todo mundo que se referisse à você, e era dele que eu tinha o maior prazer de olhar todas as manhãs, naquele nosso lugar. Mas dizem que as coisas mudam. Os ares começaram a ser mais frios e as manhãs se tornaram cinzentas. No entanto, quem dera fosse só mudanças climáticas. Estava tudo preto aqui e aí. Não enxergávamos mais nada, exceto uma luz que tinha lá no fundo daquele pequeno peito. Mas nos perdemos. Tinha luz, mas preferimos o caminho negro. E eu me senti levada por um turbilhão de sentimentos sobrecarregados. E eu me senti sendo empurragada pela barriga por alguém que não fazia das suas palavras, os seus atos. Fui ficando para trás. Quando me vi, estava inconsciente num abismo sem saída, sob inúmeras punhaladas nas costas por quem eu jamais machucaria. Não consegui me levantar. Mal conseguia enxergar as coisas claramente. E respirar, quase impossível. Por mais que não pareça, dói demais depois de uma queda sentir vontade de encher meus pulmões de ar e liberá-los intensamente. Não tem comparação o que eu sinto agora. Não tem explicação o que você me fez sentir. Mas dizem que é a vida, assim como dizem que a vida é uma caixinha de surpresas. Pois eu diria que a vida é uma mera utopia que exige muito saco e vontade de aguentá-la. Eu não quero mais, mas nem sempre querer é poder. Então vamos lá... qual é a próxima cena?

Dos olhos que eu falava

Não foi tempo perdido
nem sequer sei se foi
do que sei eu não lembro
ou não quero mais lembrar

Se da tua falta eu sofro agora
se dos teus braços eu não tenho mais
o que farei com todas essas palavras
que escrevi e declarei-as para ti?

De poeta eu não tenho nada
e o que eu tinha eu acabei de perder
porque me deixastes aos prantos
sem ter para onde ou quem correr

E a minha inspiração partiu junto
pois era dos teus olhos que eu falava
mas a minha queda já foi amortecida
por alguém que não brilha como você brilhava.

Ainda

Cuspiu
pisou
chutou
quebrou
mas não matou
só não curou.
Ainda.

Utopia

E tudo o que eu vivia
era uma mera utopia
foi difícil perceber?
eu não sei.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Muda

No teu acordar, o meu dormir
no teu soneto, uma bela canção
no teu sonho, uma recordação
na tua estrada, um acidente
nos teus dedos, um desapego
na tua cabeça, um não pensar
no teu beijo, um sabor
no teu toque, um conquistar
nos teus olhos...
prefiro não falar.

Deixar passar

E se eu deixar que o teu roteiro não seja mais o meu
que tuas pálpebras se fechem ao perceber
que a tua ida não tenha passagem de volta
e que as minhas pupilas não brilham mais ao te ver?

E se eu deixar que o teu coração siga livre o caminho
que alguém o pegue no meio desse estrondoso destino
e que te faça esquecer do que você não quer esquecer
pois insiste em querer o que não sabe o que quer?

E se eu deixar que a saudade perfure as tuas veias
e exploda com teu sangue molhando os teus lençóis
encobertos de enredos e corpos esculturais quase nus
despencando o teu mundo em detalhes quase irreais?

E se eu deixar que o meu filme não passe mais na tua TV
e que excluam as minhas cenas para tu não mais ver
o que estes olhos incansavelmente querem mostrar
no decorrer do tempo que ficastes a pensar?

E se eu deixar, finalmente deixar passar
o tempo ruim e as tempestades catastróficas
que verteram água por trás dos meus e teus olhos
tu deixaria que eu deixasse passar ou passaria para ficar?

Ponto de partida

Me descoloco dos teus sonhos
como alguém que se move de um lugar
mas não me movo porque quero
me movo por não saber como chegar

Na linha da sabedoria
pensei que eu fosse te encontrar
nada achei, senão alguns traços
- poucos, mas mesmo assim quis guardar

Meu peito dói e meus olhos clamam
mas muda ainda estou, no aguardo
das chamas que imploram por mais um abraço
um beijo ou algo que nos faça recordar

Para mim não existe ponto final
o que existe são breves trechos e retalhos
de uma carta mal interpretada ou uma calça mal cortada
pois o que guardo tem também seu corte no lugar errado

E olha, quanta coisa passei a pensar, ein?
mas não te preocupes com a tua ida, meu bem
o teu lugar continua aqui, mesmo eu me movendo
pois constantemente paro no mesmo ponto de partida.

Verdades

O que tu diz
não condiz
com o que tu sente

Ou o que eu vejo
não é claro
aos olhos ardentes

O que tu sente
não condiz
com o que tu diz

E o que eu penso
de quê condiz
com o teu sentir?

De nada sei
e nada quero saber
tudo temerei

Pois o que já sei
doeu demais até ver
quem é você.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Más amor, por favor
Y una taza de café.

Sobre o ato de respirar fundo

As minhas pernas tremiam e os meus olhos já estavam marejados e embaçados. Eu só pensava em sair dali. E saí. Corri, sei lá. Fiquei imóvel apenas criando fantasias na minha cabeça. E eu não queria acreditar. Não acredito. Não sei. Não vi. Por mais que a verdade dita esteja entalada na minha garganta, querendo sair pra fora e em seguida, novamente, entrar pra dentro, só que com outros lábios a falando. E eu ando enfronhando-me muito. Ando acomodada, querendo dormir e ficar sem comer por dias, noites... Não consigo. Por mais que uma boa parte de mim queira ficar aqui, outra maior ainda quer ir embora. E aí você já sabe. Subvertemos tudo o que podia existir entre nós. Perdemos o brilho, a coragem, o respeito. Só não perdemos o amor. Ele continua aqui. Quietinho, quietinho... porque o barulho da chuva não o deixa mais falar, gritar, espernear. E como dói... Só de pensar naquele momento em que percebi que teu choro não foi de alegria por estarmos juntos, mas sim de dor, eu sinto vontade de chorar que nem uma criança. E eu chorei, inúmeras vezes. Chorei de gritar querendo colo, querendo abraço, querendo afeto e alguém que demonstrasse que se importava comigo, que me queria bem, que gostava de estar ao meu lado. Encontrei várias pessoas. Maravilhosas, por sinal. Mas não adianta, sabe? Tem que ser você. Em todos os cantos, em todos os bares, em todas as esquinas e casas e olhares e lábios - só quero você. Mas a chuva não me deixa te olhar nos olhos, te tocar e te abraçar. E quando eu pensei que a tempestade havia passado, foi quando eu senti uma vontade imensa de te abraçar, te incomodar, te beijar, te amar mais por fora, entende? Não deu. Foi engano meu. A tempestade só piorou e, pra completar, a chuva não anda parando, só piorando. Aqui e aí. E por mais que eu tente respirar fundo, escrever e esbravejar tudo o que se passa nesse meu coração, algumas coisas simplesmente não precisam mais serem esboçadas. O meu desenho borrou bem na parte em que você estava segurando a minha mão. Mas não rasgou. Dá pra consertar? Respiro fundo e tento, mais uma vez, consertar-nos.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Frágil amor

A fragilidade me assusta às vezes. Não a palavra. Quer dizer, também a palavra. Mas em especial o sentido da palavra. Vejamos... Eu me assusto toda vez que ouço "fragilidade". Automaticamente meu cérebro capita o sentido da palavra e eu fico sem chão. Da mesma forma, quando me chamam de fraca ou instável, assimilo à fragilidade e começo a tremer. É sempre assim, com qualquer pessoa que ouve seu ponto fraco ou maior defeito emocional sendo comentado e admitido por pessoas que você só queria que te passasem a mão na cabeça. Comigo não foi diferente. Ainda mais comigo. Poxa, justo eu? É que toda vez que uma verdade é dita para mim - no caso, referente a mim - eu sobressalto, desanimo. Algumas pessoas gostam de ouvir suas verdades serem ditas. Algumas. Nunca disse que me enquadro nos termos "algumas", "todo mundo" ou "aqueles". Assim como nunca disse à vocês o quanto me perturba ter que ouvir certas coisas. Não por serem minhas verdades, mas por doer ouvi-las. De qualquer maneira, escutei. Sem saber como agir, sem saber o que falar, sem saber como te olhar nos olhos mais tarde. Levantei a cabeça, mas não abri meu coração ainda. Tá fechado. Do jeito que tu deixou quando, querendo ou não, arrancou alguma lasquinha daquele frágil espelho meu. Ora essa. Voltei a falar de fragilidade. Pois é. Faz parte da minha vida ser assim, do mesmo modo que faz parte dos meus olhos enxergar e do meu coração sentir. Ainda não permiti sentir depois de tudo. Além do mais, a tempestade ainda não acabou. Você viu, por acaso, algum arco-íris? É. Imaginei que a resposta fosse essa mesmo. Com cuidado, eu levantei a minha cabeça, como havia dito. Com muito cuidado. É que as lágrimas ainda vertiam diante daquela tela de computador. E não só as lágrimas como também o receio de voltar a sentir, de voltar a ser como estávamos sendo antes. Há um receio. Eu não quis que fosse assim. Essa apreensão que sinto está ligada com o meu maior querer. Tu diz que acabou. Tu diz que vai ficar tudo bem. E isso, sinceramente, é o que tu diz. E o que eu digo? Vem perguntar. Tá na palma da minha mão. Sem temor, responderei.

32º Cafezinho Poético


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segunda-feira, 20 de junho de 2011

Solidão contemporânea

A plenitude destes acordes
que dão vida à bela arte
e expressam o que há por dentro
do que não há nem em Marte

Aparte destes gestos
e de jeitos que eu não questiono
só acho bela demais esta vida
oca, nublada, dolorosa, mas faz parte

E a réplica dos nossos sonhos
são encantos que a natureza guarda
porque aqui estamos, hoje e sempre
em busca de uma resposta válida

E se de respostas não há encontros
nos contentamos com o mar aberto
e o céu encoberto de estrelas guiando
a nossa solidão contemporânea.

O sino que me chama

Ao alcance dos meus dedos estão
o selo do teu beijo no meu lábio espesso
e o teu puxar contra o mundo
à minha cintura levada de ti

Nas minhas tão poucas marcas eu encontro
uma pinta no meu braço e no meu pescoço
que me mostra por quantos rostos
já passei o meu ar e o meu calor

E às vezes o sino me chama
porque descobri que esse é o meu destino
no teu recanto, no teu lar, onde você estará
saibas que por perto eu estarei, a ti, para ti

E não penses que onde teu guardo, é onde ficará
quero que vivas, saltite, pule no meu peito
pois do teu sangue beberei, e tenhas certeza:
serás meu alimento e mantimento por essas redondezas.

domingo, 19 de junho de 2011

Aqui e aí

E vai chover
Mais uma tempestade
Aqui e aí

O que é maior que o céu?
Para verter o que cai
Aqui e aí

Se for para levar
Que leve logo
De mim, de ti

Mas se nada mais ousar
Que fique
Aqui e aí

Aí e aqui.

Justo hoje

Justo hoje
que eu te esperei com flores
ao chegar em casa

Justo hoje
que eu tinha tanto a falar
sobre a nossa história

Justo hoje
que as minhas canções
te alcançaram na extremidade

Justo hoje
que meus versos te admiram
e meus lábios te tocam

E justo hoje
que eu tento te escrever
mesmo sem que tu estejas aqui.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

O altar

Vez'emquando minhas palavras se cospem
mas não é por mal
E tem dias que elas esbravejam a minha loucura
o que também não é por mal

Os meus dedos insistem em esboçar a arte perfeita
e também gostam de tocar o tom que incendeia
Mas não são nem meus acordes, nem meus desabafos
do que eu falo não tem nome, nem se quer um traço

É tudo torto, em círculos, cilindros
como minhas dores em dias frios
Mas tudo esquenta quando eu tenho alguns motivos
para falar dos amores que se cruzam aos meus rabiscos

O ré bemol que eu tanto falo não expressa o que eu quero
mas são coisas que o sol consegue explicar com clareza
E a inocência dos meus dias que se cruzam às tuas tardes
não demonstram nada do que raia à minha mesa

Na bagagem carrego todos os olhares e estórias
que eu não consigo levar no peito por não caber mais
Mas são coisas que eu levo e recordo a todo instante
quando deito, sonho, acordo ou simplesmente voo para trás

E eu risco todas as marcas excitantes das tuas sardinhas ao meu papel
viro a página a cada falha, pois não há borracha para apagar
E arquiteto a tua escultura no meu mais lindo e digno altar
da mesma forma que caio aos teus pés, oh minha vida, tenho tanto a te escutar.

Baralho de truco

Charme encantador
Palavras adornadas
Guiam e me desviam
Nesse céu de blues

Aformoseado o teu saber
Vistoso todos os teus dizeres
Embelezados os teus olhos
Garridas todas as tuas faces

Desnorteada eu fico
Perco o sentido
Embaralhada como um baralho de truco
Atrapalhada com o meu estranho querer.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Porvir

Confesso que é rubro o nosso sentir
Espesso o meu querer
E excessivo o meu amor
Mas de intenso não há mais nada
Nem o acorde das mais lindas canções
Tampouco o demasiado desejo de ti
E o que nos venera nessa espera
É o emboscar da minha clareza
Que te surpreende ao ver-me
Comprando rosas e segurando a tua mão
Pois o que eu observo não há repreensão
Te vejo no meu lado em pleno amanhã
Pois é assim que te quero no hoje
E assim que incessantemente aguardo
Lá, estando
E lá, ouvindo.

Sólidos espelhos de terra

Carregamos uma vida
Às vezes não tão bem vivida
Tem dias que ela nos carrega
Por não termos uma visão tão nítida

Às vezes esmaecem-se nossos olhos
E ficam trêmulas as nossas pernas
Pois nossos corações quando partem
Se tornam sólidos espelhos de terra

E não nos sentimos totalmente curados
Sobre a abstinência de algo que nem sabemos
E nem exigimos saber o incompreensível
Pois o que nos cerca é sujo e insensível

Esta não seria a melhor forma
De dizermos 'sejam bem-vindos'
Pois esse mundo me dá náuseas
E me enoja o fato de tudo o que eu dizer ser verdade.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Placebo

Nos primeiros dias eu bebo do teu sangue
Até pouco tempo atrás não conhecia o teu gosto
Mas tu se tornou um placebo tão grandioso
Que distorceu até o que não fazia sentido

Coisas que nem o clarão do sol pudesse despertar
Nem a fúria do tempo conseguiria consertar
Os instintos que tu me envolveste
Com o teu visco e curioso amar

Mais intenso que o calor do teu corpo grudado no meu
Não há, não há - repeti para mim mesma
É que é espesso o teu querer por mim
Mas maior ainda é o meu avesso de ti.

Fenix

À ventura a tua cintura sinuosa e suave
Que curva a tua esfera de forma simplória e abstrata
Me delira com teu encanto de douçura inegável
E com a tua astúcia que me faz te anelar

Surgiu das cinzas os teus olhos excitantes
Que eu cobiço ao subir o que tu nem sabes
E me apetece a tua curva com olhos
Deixando minha respiração ficar ofegante

Se soubesses o quanto me afervoras
E o tamanho do perigo que eu sou
Não aferventaria tanto assim o meu corpo
O teu corpo, o meu querer.

Fotografia

Mas tem sido difíceis esses dias. Acordar, ir à escola, arrumar a casa... Embora eu tenha tantas responsabilidades e pessoas me esperando, o acaso me fez voltar aqui. Ando falando com a minha cadela e já acho que to ficando louca. Não. É falta de ter alguém pra conversar mesmo. Mas tenho me privado, acima de tudo, de causar tanto transtorno na vida das pessoas falando sobre meus pensamentos medíocres. Ainda penso, confesso. Pouco, mas penso. Basta, não basta? E eu sei o quão difícil é ler isso, escrever também é, acredite. Os meus versos, os teus jeitos e outras lembranças que eu guardo e abraço todas as noites. Não acredito que depois de seis meses volto aqui para falar disso. É um soco no escuro. É um aperto enorme. É uma dor inigualável que ninguém, nem mesmo eu posso entender. Mas tem sido difíceis essas noites. Tentar dormir e não conseguir porque a insônia me persegue é mais do que ridículo. Ou então acordar no meio da noite desesperada, querendo um abraço sem fim, um beijo, um carinho qualquer. E faz falta. Faz tanta falta que não me enxergo mais aqui. Só não faz sentido. Nada disso. No entanto, creio que eu tenha aprendido a não procurar mais por coisas que eu sei que não darão certo. Eu tentei. Já falei isso quinhentas vezes, mas não me canso de repetir. Faz tempo que não falo mais a tua língua. É que meu novo idioma tomou conta de mim. E minhas novas palavras, virtudes, amizades e outras coisas a mais. E também tem aqueles cacos, você lembra? Se foram. Juntaram pra mim quando eu não tive forças. E cá estou eu. Que diabos faço aqui?

Asma

E me ensurdece os teus sussurros apelando à vida
Pois tua navalha não me corta ou ameaça mais
O que mais dói não sangra, e sim parte
Ao meio, em pedaços ou embora

Não sei se pelo nó desfeito à tua frente
Ou se pela lua que só escurece tua alma
Sei só que teus dias tem sido tristes
E tua história está marcada na sua palma

Sufoca, aflige, angustia
Como uma estrige fria
Mas ainda assim, só dói.


*Ao som de Bon Iver - Re: Stacks

Ciro

Cem minutos e tu vês o céu?
Poderá haver estrelas ou qualquer coisa
Mas te pergunto: tu vês?
Se Ciro me permitir
Vou mostrar-te os meus segredos
Para não vejas outra coisa mais bela
A não ser a intensa luz que nos rege.

*Ao som de Legião Urbana - Tempo Perdido.

Insônia

Aflorava a noite estúpida
E enviesara meus braços na cama
Escutara algo que eu não entendi bem
Por desfrutar do auge da minha insônia

Repousei ao som de Legião Urbana
"Hoje a noite não tem luar" me deixou tão só
É que meus versos nada de sentido fazem
A não ser trazer a nostalgia dos meus dias de criança

E ao Visconde entreguei meu corpo
Despindo a minha máscara perdida
Pois a verdade não encontrei
Perdi ela no meu sono homicida

E as minhas palavras deixo gravadas aqui
E que a noite leve todas essas petulâncias
Porque eu hei de querer dormir agora e sempre
Antes que me perca nesse escombro melancólico.

*Ao som de Visconde - Asma.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Do teu enredo

Foi intenso o nosso enredo
E suave pra quem ler
Veemente que eu percebo
O quão grande foi o teu querer

Só que os dias tornaram-se anos
E há anos não te vi mais
Esse nosso passado meio profano
Está mais pra insano, vamos concordar?

Dos nossos afagos eu lembro bem
Até dos teus traços únicos
Só não lembro foi como eu deixei
Que os teus fastos me tornassem muda

E assim estou hoje
Não mais calada
Porém mudada
Quem dera eu o fosse.

Lugar vago

E se ecoa aquela voz que soa tão bem
Aos meus ouvidos, rouca, quase em veludo
É que desfiz dos nossos nós o teu eu
Para que eu fique alinhada ao teu rumo

Dos vários eu's que eu encontrei nesta estrada
Foram poucos que realmente ficaram
Pois nenhum deles era poeta bem amado
Do que tu, quando fala dos meus retratos

As tuas curvas se encaixaram nos meus dedos
E agora te escrevo para comprovar os teus olhos
Que me penetram e se põe a falar
Mas que farei eu, se não também te olhar?

E se tu passas quando não vejo?
E se tu ficas e eu nem percebo?
Eis que me ponho no teu lugar vago
E pego na tua mão para me esquentar.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Placenta

Queria um colo, um beijo, um abraço ou sentar na beira de um rio
E talvez, mais do que isso, apenas uma sopa em um dia frio
Daquelas bem cheirosas, com cenoura e legumes que eu tanto amo
E que você, mais que ninguém, sabe dos meus gostos e arreganhos

No vendaval dos meus dias, mesmo com a minha fúria
Era o seu instinto que compreendia à sua ternura
Comovia-me com o seu apego e total confiança
Que declara mesmo nos dias que a gente "dança"

Na infância era o seu colo que me confortava
Principalmente quando nas brincadeiras, me machucava
Mas mesmo assim eu seguia sorridente
Herança que eu herdei de ti claramente

Ainda penso nas suas gritarias quando eu não acordava
E nas suas gritarias quando eu acordava, e ali ficava
E nas suas gritarias quando eu esperneava e incomodava
Mas que falta, as suas gritarias não fazem para dar uma animada!

Mas te vais ao pão da casa colocar
E se não ficas, é pelo bem de quem aqui fica a te esperar
Para que a placenta continue com sua forma figurada
Que nós continuaremos aqui, com nossa forma idealizada.

Palpitação

E era palpitação o que eu sentia
No desenrolar deste roteiro inacabado
Onde a tua direção era o que me guiava
No rumo ao horizonte retalhado

E as tuas cartas, tão assopradas pelo vento
Não foram levadas, mas sim deixadas ao dia cinzento
Nevoento, outrora lindo, este dia que eu sigo entendendo
E desabrocho da tua flor a saudade que me aperta o peito

Turbulento esse meu coração, que quando tu se vais, fica na mão
E quando tu vens, ele pula pro chão, me deixa sem expressão
E eu devoro tuas pupilas nesta pequena escrita
Para que compreendas que muito mais dita que tu, só tu.

domingo, 12 de junho de 2011

O olhar que não me olha

Nos meus escombros tu te escondestes
E não deixaste nenhum vestígio do teu mistério
Embaraçou o meu peito de incertezas
Por não me olhar nos olhos quando eu quero

É mítica a forma como tu não me contemplas
Ou se me contemplas, talvez eu não vi
Seria complacente se eu soubesse o que tu pensas
Sobre o sustenido em fá que eu toquei para ti

E eu bajulei toda a inocência do teu nascer
Por desfrutar da tua docência no sentir
E preferi não proferir o céu azul no amanhecer
Por querer que tu vejas com teus olhos o meu sorrir.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Dos nossos lábios

O fogo que me conduz
A chama que me leva
Ao teu afeto descontrolado
À tua essência de ser

Dos teus lábios eu fui à lua
Naquela calada noite de inverno
Que me fascinava pela pele arrepios
Mas me contentava pelo calor dos teus verbos

E pedi que colocastes mais uma lasca
No fogo que tu mesma criou
Porque o que me sacia não é o calor
Mas o volume que meu fogo alcançou

E te trouxe pelos braços ao sol
Que no amanhecer nos brilhou aquela luz
O som dos pássaros singularizavam o local
Que eu guardei em minha memória, assim como tu

E enrolados em lençóis que eu fantasiei
Ainda não vi tua escultura fantástica
Só sei que tenho muita vontade de te ter
No meu jardim, no meu quarto, na minha casa.

Do não saber

Não sei se é porque sou eu
Ou se não sou eu que sou
Talvez não seja mais eu
Ser ou não ser, não sei se sou

E se fostes? E se estivesse?
E se coubesse no teu ventre o meu eu?
E se fechastes? E se partisse?
E se trouxestes no teu ego o que perdeu?

Não saberias, jamais terias
Não entenderias o que se cresce aqui
Nem se quer confiarias, exclamaria
Que a tua ida não era partida, mas sim o que fiz.

Doces pupilas pretas

Eu poderia ficar aqui olhando estes olhos por dias. Não haveria uma palavra que pudesse interromper o meu momento de "magnetismo". E nem se quer a chuva caindo sob nossos rostos. Talvez a noite pudesse fazer alguma coisa. Talvez o som da tua voz sussurrando coisas ao meu ouvido pudessem me fazer fantasiar os teus lábios nos meus. Talvez. Nada certo. E eu continuava a observar como tuas pupilas pretas são grandes e intensas. Tais renascentistas provaram o quanto cores escuras nos demonstram imensidão. E talvez, mais uma vez - talvez - seja isso mesmo que eu goste tanto em ti. A tua imensidão. A tua intensa imensidão. Não só as pupilas pretas as quais passo a observar toda vez que lhe vejo, mas o teu "eu" tão incompleto e brilhante do qual gosto tanto de falar. Que soe do jeito que for. Que aconteça do nosso jeito. Que seja assim, tão bom, quanto já é. Que me dê ainda muitos motivos para sorrir. Que me enrole nos teus braços e me alucine nos teus lençóis. Que me traga rosas vermelhas com o teu perfume. Que seja ainda mais belo e doce, como as tuas pupilas pretas.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

O tango

Cativava o olhar
Admirava uma face
Mas não esperava pegar
A sua mão como um enlace

E dançavam o tango
Ele e ela, ela e ele
No deslumbre daquela noite
Que esvoaçava seus cabelos

Noite fria ou noite quente
Essas coisas não importam
O que importa é a beleza
Dos olhares que se cruzam

É tão bonita, é tão bonita!
Essa vida que nos leva
É tão bonita, é tão bonita!
Que nem um tango na primavera.

domingo, 5 de junho de 2011

Sobre excessos

Deixei que o meu corpo falasse. Esse excesso de oxitocina me fez perder a noção das coisas. Eu estava imersa em águas sujas quando uma correnteza forte me levou até as águas cristalinas. Tão puras quanto qualquer coisa já vista. E deixei que a correnteza fosse me levando, me levando, me levando... E dos teus beijos eu quero mais, e sinto falta, já, agora. Porque você excessa dopamina no meu sistema nervoso e eu fico sem chão quando você vai embora. E me faz ter arrepios constantemente com o seu carinho e atenção admiráveis. As suas pupilas me mostram tudo que eu preciso para ser completa. Com você eu tive que aprender a demonstrar com mais precisão as coisas. E foi por você que eu engordei alguns quilos, já que a minha ansiedade se refletia nos pratos de comida. Ao seu lado, entendi inúmeras coisas, inclusive como funciona a menstruação de uma cadela. Entendi alguns conceitos de matemática e muito sobre corações. Ainda que sejam vários os motivos pelos quais meu coração pulsa por você, sinto como se não houvesse mais ninguém nesse mundo, se não eu e você. E o seu abraço me conforta, mesmo que seja por alguns míseros segundos, para mim é como se durassem por anos. Eu quero a sua mão para me estender quando eu estiver caída no chão. Eu quero o seu colo quando não houver mais ninguém ao meu lado. Eu quero sentir seu coração à noite, observando estrelas e tentando achar alguma que brilhe mais como você. Eu quero fazer você se sentir a melhor pessoa do mundo, tal qual você é. E eu quero concretizar todos os sonhos e planos que criei com você. Até lá, preciso aprender a controlar os níveis de noradrenalina e vasopressina no meu sangue, para evitar alguma morte por amor inesperada. Espero que cuides de mim da mesma forma que quero cuidar de você.

sábado, 4 de junho de 2011

Doce inverno

Ora, ora
Que doce esse inverno
Que me cobre
No mergulho
Dos teus sonhos

Que coisa mais linda
Esse céu encoberto
Por doces estrelas
Brilhantes no deslumbre
Da tua pupila preta

E se eu te dissesse
Que nas flores enxergo
Tua beleza
E num vulto qualquer
Penso que és tu?

E se eu te dissesse
Que nas cores do inverno
Me encontro nos teus cobertores
Agarrada nos teus braços
E no teu doce encanto?

Ora, ora
Doce inverno
Dessa vida
Que me leva
Em pequenas entrelinhas...

sexta-feira, 3 de junho de 2011

"... tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo conduzia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações..."

Primo Basílio, Eça de Queiroz.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Do verbo sentir

Trata-se de pessoas e decisões. Trata-se como animais e jogos. Devo estar enganada? Tentei pintar quadros novos, mas não consegui. As cores bonitas foram embora ou é coisa da minha cabeça? Está tudo tão cinza. Ouvi dizerem que depois da tempestade sempre vem o arco-íris. E veio, confesso. "Me veio como um sonho bom", lembrei dessa frase e a mesma serve para definir meu momento. Mas até quando vão as expectativas e os planos das pessoas? Até onde as pessoas vão por quem amam? É uma incógnita para mim. Ainda. Essa história de amor, tão banalizada quanto a cara de muitos corruptos idiotas, me transparece, ainda agora, muita indecisão. Te amo não é bom dia. Te amo não é olá. Te amo não é por favor, obrigada, desculpe. Te amo não vem necessariamente do verbo amar, mas sim do verbo sentir. Eu sinto, tu sentes, ele sente, e assim vai, assim vão. O que tanto querem é transparecer que sabem amar. Ninguém sabe amar. Ninguém nasce sabendo. Isso eu não aprendi errando, mas sim na escola. Por que vocês acham que erram? Por que sabem das coisas? Ora, meus caros, se vocês soubessem de alguma coisa nessa vida, não errariam tanto. Mas não se preocupem. Errar é para os sábios e fortes. O problema é que muita gente simplesmente erra demais e isso, em determinadas situações, acaba prejudicando o próximo. Eu estou falando exatamente do que você está pensando. Uma pessoa não é um animal. Pelo contrário, um animal e uma pessoa são seres completamente diferentes. Porque animais (no sentido generalizado) não ferem outros animais porque gostam de machucá-los, mas sim porque é próprio da natureza de determinadas espécies. Já os humanos não nasceram com a natureza de machucar o semelhante, nem feri-lo, nem nada. Os humanos nasceram para amar o próximo. Está na Bíblia. No entanto, até que ponto vai esse amar? Os humanos são seres nojentos e injustos quando se trata de corações. Eles pisam, amassam, cospem, apertam, ignoram, vomitam em cima deles. E não estão nem aí. Sempre me vem na cabeça que o amor é algo muito valioso, que as pessoas deveriam prezar mais. Não é isso que vemos hoje em dia, para a nossa tristeza. Por isso costumo aconselhar meus amigos para agarrarem com força a vida, porque um dia você vai acabar esbarrando com algo que poderá mudá-lo completamente. E aí, meu amigo, aí é outra história...

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Penny

Algumas lágrimas verteram. Não me entendo mais. Às vezes sinto que eu preciso de mais, e às vezes eu sinto que isso é tudo o que eu preciso. É como dar um tiro no escuro e ao mesmo tempo querer viver. O mundo não é perfeito, tampouco eu. Só que a vanguarda não me espera mais. Não existe uma espera no meio dessa minha busca. É ir ou ficar pra trás. É matar ou morrer, radicalizando ainda mais a situação. E por mais distante que eu esteja do meu ponto inicial, me sinto inteira. Costumo reacreditar nas coisas e nas pessoas. Isso me fortalece muito, embora eu não perceba. Enquanto essa história de absorver força te convence, eu estou tentando ficar quieta, mas a inquietude disso tudo é o que me comove. Não consigo parar de pensar em possibilidades. Não de voltas, muito menos de idas, mas de possibilidades inviáveis. Não queira me entender. Conforte-se quando eu digo isso, porque nem eu me entendo, imagine você? E minha voz anda rouca, meu cabelo não se ajeita mais, minha barriga esticando cada vez mais pros lados... que diabos eu fui virar, ein? Talvez seja só uma questão pessoal, mas e se não for, e se eu estiver mesmo tentando ser alguém que não sou, tentando me justificar fazendo as coisas certas? Pronto, desabafei. Não o bastante para o tamanho da minha confusão mental, mas o suficiente para eu dormir em paz.

Pseudônimos e algumas coisas a mais

Tentei te nomear tantas vezes. Tentei acreditar que você pudesse ser outra pessoa e não você, como é, como era. Tentei de todos os jeitos te mandar sinais. Tentei conversar, reacreditar em alguma coisa que ainda exista. Mas não existe nada. Chega de criar coisas na minha cabeça. Chega dessa história fantasiada, cheia de intrigas, igual novela. Eu nem te conheço mais pra tentar alguma coisa. Eu nem sei mais quem você é. Só sei que tentei, que tentou. Disso não temos dúvidas. Não procuro alguém para culpar. Não quero saber de alguém que encha a boca pra falar mal de tudo isso. Só Deus, eu e você sabemos de tudo. Não pense que estou me lamentando, mais uma vez, depois de meses, aqui. Não. Eu estou bem feliz até por falar disso sem nenhum rancor. O "até" é uma suposição. Não significa que há um limite de felicidade, mas há muita coisa que me impede de ser mais feliz do que já sou. E eu esperei tanto para a poeira baixar. Parecia que as coisas só pioravam e pioravam. Parecia que nunca teria fim aquela dor insuportável. Não sei como cheguei aqui. Só sei que estou bem. Só que eu tentei, que tentou. Sim, tentamos. E aprender, quase que de imediato, não foi tão breve assim pra esquecer. Ainda dói em alguma parte do meu corpo. Ainda sinto calafrios, choros, saudade. E eu não estou me lamentando, só para lembrar. É que teus pseudônimos não saem da minha cabeça. E as tuas caras e bocas também não. Rosto não muito. Eu me esqueci um pouco dele. Não sei como está agora. Não sei se cortou o cabelo, mudou o visual, pintou... Sinceramente, eu não gostaria de saber. Não agora. Talvez daqui a um tempo. Mas agora não. É que aquele som do piano ainda me toca. Aquela vez suave falando no meu ouvido, sussurrando tudo o que eu queria ouvir naquele momento. Por que ainda insiste em zombar minha cabeça? Teus pseudônimos estão gravados em mim; em cada parte do meu corpo. E por mais que eu tente, de novo, não dá. Eles não saem daqui.


"Tudo pode estar lá
E eu aqui."

Lá, Visconde.