quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

O homem dos infernos

cuidado! um homem que vê tudo
pode não ver nada
pode não ver a vida
e pode rir à facadas
pode só ver o inferno
e ainda assim, o achar gelado
pode se esconder em qualquer hemisfério
que ainda assim, será achado.

Terror

um bêbado vagabundo
vagou vagarosamente pelas ruas
esculpindo rostos que não existiam
distorcendo verdades
exalando no ar o cheiro da desgraça
do blues enlouquecido
que dizem passar,
passou e voltou
e ainda assim, o chamam de "amor"
que horror, que temor
que o poema se tornou
no decorrer desse terror.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Anatomia do recomeço

As emoções sufocam a mente.  O coração acelera tão fortemente que só assim percebemos a nossa capacidade de amar. Mas não sabemos da grandeza do nosso cérebro em preservar essas emoções. Não sabemos quão grande as nossas lembranças se tornam após uma perda, mas sabemos que muita coisa fica congestionada no nosso sistema límbico. Essas lembranças se tornam forte a cada batimento acelerado do coração. As coisas que antes não faziam sentido, ou pelo menos não enxergávamos, começam a aparecer interligadas às nossas emoções.  Não conseguimos em hipótese alguma compreender determinadas sensações, mas compreendemos que o sangue que circula em nossas veias tem em grande parte um pedaço do carisma e do rosto daquele amor, que por mínimo que seja, nos mostra o quão forte somos para enfrentar certas situações. O coração bombeia sangue. Os nossos ossos são obrigados a não se quebrarem quando nossa situação emocional se quebra. O nosso subconsciente admite: temos que superar. E superamos. Embora saibamos que o ato de superar não depende do nosso corpo, mas sim da nossa vontade. E querer se torna tão mais forte à dois. Da mesma forma que amar, sentir, tocar. São mínimas sensações que causam um curto-circuito no nosso cérebro. A cada lembrança a velocidade em que o coração bombeia sangue aumenta. A cada perda as lembranças se tornam constantes, dominando maior parte do consciente. A cada amanhã temos um novo recomeço. E até um recomeço fica mais forte à dois.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

MÚSICA PRA PENSAR

Beeshop - Save Me


(...)
Agora quem vai me salvar?
Quem vai me fazer sentir bem?
Você não pode simplesmente me apagar.
Querida, como você consegue dormir a noite?
(...)
Mas por que eu sempre sou o único
Que termina precisando de uma mão pra tirar do fundo?
Porque eu sou sempre assim?
Alguém me diga, por favor, yeah.
(...)
Por que o sol nunca nasce
Quando estou com medo da noite (Não consigo ver a luz)
Por que não tem ninguém
Não tem ninguém
Não tem ninguém
Não tem ninguém.
(...)
E eu sei que sempre
Estamos condenados a cruzar o caminho um do outro.

Último suspiro


Ao amanhã, o ontem esbanja esquecimento. Ao hoje, a dor ainda culmina, arde, entristece, desaponta, rasga a pele, o peito, a alma. E os destroços do meu eu decepcionam aos outros olhos. Eu constantemente me quebro, te quebro, nos parto em dois, divido o nosso amor e o transformo em algo que eu não sei o que é. Não celebro tanto a vida. Desperdicei dos momentos mais incríveis dela por outras que não significaram nada para mim. E tem sido difícil. Agora, os demais dias e outros que ainda virão. O ontem e hoje, tem sido difíceis, estranhos, paralisantes. Eu estou me sentindo presa entre um carro e uma árvore. O carro me parte em pedaços contra a árvore e eu não consigo ver nada mais além do meu próprio sangue. Dizem que a dor, quando demasiada, pode parecer ter sido suportada. Eu concordo. Quando se dói demais, acaba nem doendo tanto. O corpo acostuma. Os olhos marejam e as lágrimas ressecam. Também ouvi dizer por aí que nas esquinas se encontram de todas as pessoas possíveis. Daquelas que perdoam, mas não esquecem. Aquelas que não perdoam e nem esquecem. Aquelas que crucificam até o último momento. E, inclusive, aquelas que tem toda razão, ou que não tem nada mais além do que atitudes que a condenam para o resto da vida. Não sou vítima, sou culpada. E confesso o meu crime, mais uma vez. Pelo amor que guardo em meu peito, pelos dias lindos que passei e que passarei ao teu lado, pela presença inesperada que fui em tua vida, por lutar tanto e machucando tanto, colocando em dúvida a coisa mais preciosa que ousei sentir. Por não negar querer-te tanto. Por pagar, ainda assim, mesmo com toda a dor do mundo e o maior medo de perder-te, todos os meus erros. Te quero, mas não te mereço. No entanto, não vou poupar minha energia para ter-te todos os dias da minha vida, até o meu último suspiro.  

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Ao pré-conceito

não precisamos negar
o que não faz sentido
nem aceitar, nem gostar
basta que não julgues
o que não faz sentido ser julgado.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Poesia da poesia

não, não compreendo a tua poesia
em cada linha dos teus versos,
em cada parágrafo obscuro,
só enxergo a tua míope atrás dos muros
debaixo das camas, no arredor da minha morada
e enxergo teus beijos alinhados aos amassos
nus, na cama, desorientados, perdidos, condenados.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Lutar

É cada vez mais bonito amar e ter alguém para amar. Principalmente quando se é correspondido. Principalmente quando seu coração não estava desejando um amor para se encantar. No começo, algumas coisas não parecem importar, porque não fazem sentido. Mas de repente tudo vira do avesso. E é de repente mesmo. As coisas começam a se encaixar, parecendo que estão fazendo sentido, quando na realidade o que realmente fazem é confundir cada vez mais nossos instintos relacionados ao coração. Começamos a perder o controle, largar a direção do carro e deixar que ele se vá por conta própria. Quando vemos, batemos nas árvores, nos machucamos um pouco, mas continuamos, na maioria das vezes. Sabemos que o carro é forte e aguenta o tranco, pois já passou por várias outras batidas e nunca acontecera nada - isso basta, é o que repetimos constantemente ao nosso pessimismo. Com um pouco mais de atenção do que o normal, com uma mão no volante, esboçamos as curvas dessa estrada, com os olhos bem abertos, com receio de que ele bata de novo. Não por bater, sim por machucar. A dor nos provoca sensações ridículas. Nos sentimentos aptos a desistir do amor, das estradas, do futuro, das expectativas, de tudo. O temporal, algumas vezes, parece não querer passar. Mas passa. E quando passa, vemos o quão valeu a pena lutar.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Convite para o Carnaval Popular de Santiago - RS

Clique na imagem para ampliar.
























Época

Ah, mas que saudade!
dos carnavais de máscara,
com clubes cheios, pessoas lindas
muito amor saudando a vida!
felicidade que contagia
corações que aceleram
simbologias jamais esquecidas!

Me é tão estranho
sentir saudade do passado
dos costumes antigos, outras épocas
dos anos setenta ou cinquenta
em que meus avós roubavam a cena!

Ah, mas que saudade
da época que a vida
não me permitiu viver!

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Pequeno trecho dos meus medos e anseios

Tenho medo que o amanhã me deixe só. Que meus órgãos me matem aos poucos. Que a calamidade da vida se transforme em algo muito pior do que eu poderia esperar. Tenho medo de me decepcionar, de construir desejos e sonhos e vê-los desmoronar assim, aos poucos, como um câncer em metástase. Que a saudade me corroa por dentro e por fora. Que tu já não me queiras mais. Sim, tenho medo até das coisas banais como um sapo pulando em meus pés. Tenho medo da solidão, da vida breve, do coração partido. Das viagens que terminam em dor. Ah, tenho medo da dor também. Dos afastamentos e partidas inesperadas. Tenho medo que meu sol se transforme em mi menor. Que decaia, que decaio, regresso, volto. Que se corra até os músculos da minha perna tiverem câimbra, até que minha respiração fique ofegante demais. Tenho medo de correr em busca de algo e só encontrar árvores quebradas, flores murchas, céus sem azul, sem cor. Tenho medo das nuvens, da poeira sendo levada pelo vento, da fragilidade do tempo, das tempestades e chuvas que destroem a única coisa que temos como base, como ar, como vida: o amor. (...)
Eu gozo das extremidades só pra sentir o vazio de um coração que só quer viver bem.

MÚSICA PRA PENSAR

Greg Laswell - Off I Go



(Lá Vou Eu)


Pontas soltas, elas ficam emaranhadas
E depois decolam
Mas nunca me prenda
Nunca me prenda

Pontas soltas, elas ficam emaranhadas
E depois decolam
Mas nunca me prenda
Nunca me prenda

Lá vou eu
Onde eu cair
é onde eu aterrissarei

Lá vou eu
Onde eu cair
é onde eu aterrissarei

Pontas soltas ficam emaranhadas
E depois decolam
Mas nunca nos prenda
E nunca nos prenda

Pontas soltas ficam emaranhadas
E depois decolam
Mas nunca nos prenda
E nunca nos prenda

Lá vou eu
Onde eu cair
é onde eu aterrissarei.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Só para constar: nostalgia é diferente de sentir saudade.

Nostalgia

Eu ouvia Something, dos Beatles, e pensava em hipóteses, possibilidades de coisas que não poderiam existir. Eu dormi a maior parte do tempo e acordava às vezes, bem de vez em quando, para ver a minha ferida aberta e em seguida me debruçar na cama e repetir incontáveis vezes "ah, ainda não cicatrizou".  Eu dormi a maior parte do tempo e, para ser sincera, cheguei a um estágio de não ver as horas passarem. Eu esqueci nos primeiros dias, voltei a me lembrar meses depois, logo esquecia mais uma vez por algumas horas... E sempre foi assim, com o mesmo velho sorriso no rosto. Tinha dias que eu acariciava o travesseiro. Cheguei a adotar uma cadela só para ver se minha carência de amor passava, mas logo percebi que ela era recíproca, pois a cadela é mais carente que eu. Algumas vezes eu sonhava com minha vida quase-perfeita de quando eu era criança. Me lembrava de momentos que eram tão indefesos, mas que hoje eu daria tudo para voltar neles e brincar mais uma vez minhas brincadeiras. Hoje eu brinco de consertar cacos, juntar vidros quebrados e colocar no lixo, de cortar minhas mãos com aqueles pedacinhos que quase não enxergamos. Hoje eu ouço rock'n roll e esqueço-me das músicas depressivas que antes me contagiavam. Não durmo tanto. Não acaricio o travesseiro e recebo muito amor da minha cadela. Agora, quando a nostalgia começa a buzinar para dizer que está chegando, mudo o foco, mudo o rumo, mudo a estrada. O caminho de felicidade é sempre o mesmo, mas o atalho por onde eu cruzo muda constantemente.

-ente

tudo vira poesia diante da tua beleza
diante dos teus olhos, meus olhos
teus versos, teus sonhos, teus planos
teus beijos e abraços, meus cantos

a poesia que vira, revira minha mente
sufoca, se mostra e quer mulher
se sente o quente da poesia que se diz
tão frente, tão bem, tão poeta
tão ninguém, tão sós e mais além:
a sós ou o que te convém.


Dor

A dor aparenta ser ruim. Porque machuca, porque - como o próprio nome diz - dói, porque nos deixa frágeis, sensíveis e, ao longo do tempo, nos transforma justamente o oposto do que éramos. A dor pode quebrar valores, corromper histórias bonitas, distorcer verdades. No entanto, ela também pode servir como uma lição de superação, onde a dor nos mostra os nossos reais limites e as respectivas consequências se usufruirmos da boa vontade desses obstáculos. A dor estimula a resistência e nos comove quando percebemos que somos sobreviventes. Ela nos faz sangrar e, na medida do possível, suturar a própria ferida. Embora estejamos todos ressabiados, a dor é o que nos impede de enloquecermos; é o que nos derruba e ao mesmo tempo nos fortalece. Tão contraditória, mas tão relevante. Estamos todos desorientados, pois nunca aprendemos a lidar com ela. A única coisa que realmente sabemos é que é preciso ter coragem e foco. A dor aparenta ser ruim, mas é ela quem nos mostra quem realmente somos. É ela quem faz valer cada número da nossa rg. É ela que por mais dolorosa que seja, faz valer cada gota de lágrima que cai ao chão. A dor dói muito, mas ensina. E às vezes não mata. (...)

Pedido

Me empresta teus olhos, tua boca, teus dentes. Me empresta teu corpo, que logo te devolvo, meu amor. Me empresta só um pouco pra eu ver o que tu enxergas em mim, pra ver o que te faz feliz, pra me guiar no que estou ou não fazendo errado. Me empresta teu peito. Me deixa sentir o que tu sentes toda vez que eu falo grosso, estranho ou indiferente. Quero saber o que tu sentes quando eu não sou paciente e talvez até um pouco estúpida. Me empresta o teu amor pra eu compreender os teus medos e anseios, dúvidas, desconfianças e dores. Me empresta teu coração pra eu ver se o teu miocárdio suporta todas as facadas que cravei nele. Me empresta tuas dores pra eu tentar consertar algumas coisas, pra eu ver se consigo sobreviver com o pensamento de culpa que me rege, pra eu tentar grudar novamente os cacos do teu coração. As dores transformam as pessoas e as fazem escolher caminhos obscuros e diferentes. Tenho medo de me transformar num monstro carregando em minhas costas um sentimento negro, de culpa, de dor. Tenho tanto medo que te peço, encarecidamente, que me empreste tuas costas, para que a minha não me derrube ao chão, para que o peso dessas circunstâncias não me deixe ir à falência, para que teus olhos não me olhem com pena. (...)