quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Dia 16 de 365

Em toda a imensidão deste mundo, eu só queria dividir o meu cosmos com você. Nunca me imaginei num mesmo espaço que tu, depois de tudo, assinando a nossa carta de "desfaz-nós". Se cerró mi corazón. De vez, desta vez. Fechado, lacrado. Empedrado. Sonolento. Hibernei. E era como se isso fosse o suficiente pra me dizer "calma, vai passar". Mas você não passou. Eu sai da sua vida. Você não saiu da minha. Não tem como dar certo.

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Dia 15 de 365

Mais uma sessão. Dessa vez eu fui e sai feliz. Era como se isso me bastasse para aguentar as minhas lutas internas. E me basta. Tenho perdido o sono durante a noite, porque a escuridão é algo que mais me cativa nesse momento. Talvez seja o reflexo do que tenha sido a minha vida nos últimos dias. Eu ando só. E estar só me faz bem.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Dia 14 de 365

A cada blues ou jazz que eu ouço me vem uma memória impossível de ter sido vivida por mim. É como se eu colocasse o meu corpo, literalmente, para fora da minha mente. As minhas pernas já não sinto mais. Meu coração aterrizou no mais plano dos solos. Eu estou em Marte. A vida em Marte é um pesadelo. E todos os dias eu acordo acreditando que isso vai mudar.

sábado, 12 de janeiro de 2019

Dia 12 de 365

Qualquer movimento que eu fizesse, me lembrava um pouco das tuas cores. Persuadi a minha mente, confundi-a com outréns. Ela me respeitou. Isso basta.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Dia 11 de 365

Entre um acaso e outro, eu te encontrei. Não posso dizer que é amor (não sei quanto tempo leva pra se curar um amor que ainda não passou na avenida), mas posso dizer que tenho apreço e carinho por uma moça. É dela que eu consigo observar as minhas amarras e me mover a partir delas. Esse dia foi típico de uma viagem espacial. E eu segui a órbita que o meu corpo pediu.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Dia 10 de 365

Tenho amigos que me guiam cada dia a uma aventura diferente. Eles me fazem felizes. Talvez nem saibam, mas muita coisa desenterrada em mim seguiu firme e com os pés no chão por causa deles. É o tal do suporte que a gente tanto fala em terapia. Me coloco em suas mãos e a partir delas posso ver o tudo-nada que o universo se encarregou de me mostrar.

Dia 9 de 365

Comprei uma planta e hoje não me sinto só.  É dessas plantas carentes que nem a gente: tem que aguar todo dia e pegar sol. Gosta de carinho. Gosta do toque. É dessas plantas que sucumbe energia breve do mundo pra mim. Hoje eu fui astronauta. Eu tive saudade de casa. Eu tive saudade do amor. Eu tive saudade da vida. Por muito tempo respirei desprotegida. Hoje faço da minha respiração um evento de comemoração à vida. Eu estou aqui ainda. Isso não seria bom?

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Dia 8 de 365

Terapeutiquei. Se é que existe essa palavra, agora faço-a existir no meu vocabulário. E foi aliviador. Não, não aliviou. Na verdade, foi frustante. Não, esperaí. Eu não sei. Só sei que andei nas ruas de Porto Alegre por 40 minutos. Nas margens das ruas asfaltadas e conturbadas, eu caminhei e chorei. E isso foi aliviador. Por esse breve momento eu não sentia mais nada, além do meu próprio luto e da minha própria dor. Era como se isso fosse o que eu sou: me faço das minhas dores e das minhas alegrias; me costuro com o pouco de linha que me resta; cada ferida costurada é uma peça do meu quebra-cabeça. Entendi, com esse dia, que a partida é breve, o sono é leveza, a bebida um instrumento, os amigos nosso alicerce, a família nossa base e nós pertencemos a tudo isso e ao mundo. O universo é conspirador. Eu choco todo dia com os teus átomos e nem por isso sou tua. Eu tenho a minha própria energia e é dela que eu me reconstruo.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Dia 7 de 365

Olha, moça. Descartei qualquer possibilidade de falar sobre qualquer caos que eu esteja vivendo só pra falar de ti. Tem aqueles reinos que a gente chega brevemente, visita os bosques das maçãs e retorna pra nossa morada no dia seguinte. Tem outros reinos que a gente se perde, desencontra o ponto de partida e senta no riacho chorar. E tem o teu reino, que é desses que a gente sente vontade de ficar cada vez mais, perder a noção do tempo, desconectar daquilo que parece ser um mundo "bonito". O teu mundo é lindo, pequena. E cada dia que tu me mostras um pouquinho dessa imensidão que tu carregas dentro de ti, eu me sinto cada vez mais a vontade de fazer do teu peito a minha morada, do teu olhar o meu abrigo, das tuas mãos o meu abraço. Dizem que a gente tem que aceitar o que os outros tem a nos oferecer, porque isso pode ser a única coisa que eles tenham. Tu tens no teu coração o que há de mais puro nesse mundo, o que há de mais resignificante e o que me reinventa cada dia. Olha, moça, eu não tenho estado muito bem, mas me sinto feliz em te ter aqui, mesmo que distante fisicamente, eu te sinto viva no meu peito. Eu só queria que soubesse disso de uma forma mais verbalizada, mesmo sabendo que tu tens enxergado tudo isso pelos meus próprios olhos.

domingo, 6 de janeiro de 2019

Dia 6 de 365

A solidão me mata. A minha palidez não disfarça: estou adoecendo. A minha cabeça fica dando voltas e voltas no tempo. Essa questão de temporalidade realmente me sufoca. Queria perder a memória e ficar só com o que eu vivo no presente. Li em algum lugar que nós somos programados para esquecer as alegrias e as nossas dores. Discordo totalmente. Nosso corpo engana. Nossa mente é uma falácia. Não caiam nessa armadilha. Li também sobre aceitar o que os outros tem a nos oferecer. Eu aceito, mas não obrigada a querer ficar. Tem gente que só tem podridão para nos dar. Outras pessoas dão amor. O que tu deu de mais bonito pra alguém hoje?

sábado, 5 de janeiro de 2019

Dia 5 de 365

Fiz da minha nova morada um cantinho simples e acolhedor. Tem meus livros, meus templos, minhas fotos, meus quadros, meus incensos e minhas roupas. É tudo que eu preciso. Tem a solidão também. Quase estava esquecendo dela. Tem uma vista pra uma pracinha onde se misturam jovens e idosos tocando violão. Penso eu que qualquer dia eu esteja lá também. Eu resolvi, então, sair pra bailar com um amigo. Nunca me senti tão viva e ao mesmo tempo tão morta por dentro. E era isso.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Dia 3 de 365

Leveza. Era a natureza me chamando pra parar, pensar e respirar. Não pira. Rega as tuas plantas que garantirá a tua colheita. Desenvolva o teu corpo para se fortalecer e aguentar. Cada palavra é um soco no estômago, mas eu estou chegando perto, cada vez mais perto daquilo que eu acredito. Conviva com teus amigos, não julgue, não ofenda, não chores. Agenda a tua terapia e sorria de feliz por saber que haverá alguém te esperando do outro lado pra ti falar tudo que tu sentes. Foi o que eu fiz. É o que eu estou fazendo. Existe vida após um amor inacabado. Existe ar pra respirar. Existe muito amor pra viver. Existe a gente, em um brilho eterno de uma mente sem lembranças. Não pira, não pira - repete comigo. Vai ficar tudo bem.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Dia 2 de 365

Dia atípico. Dia em que a angústia que eu sentia foi totalmente despida por Oxum. Limpei a alma, lavei o corpo, deixei sair. Cada lágrima derrubada era um pedacinho meu que ainda estava aqui, me corroendo e me machucando. Eu tinha sal o suficiente na minha pele pra impedir que qualquer coisa me fizesse mal. Eu fui feliz, mesmo calada, com a cabeça escorada a 46°C em um carro sem ar condicionado. Eu morria de calor, sem saber que o que mais me matava por dentro não tinha nada haver com a temperatura da mãe terra. Eu digo que fui feliz porque eu via a tristeza ir embora, e, mais do que isso, porque me permiti ser e estar triste. Vivi o meu luto. Cada dia eu vivo mais a morte da minha vida.

terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Dia 1 de 365

Dia 1 de 365.
Estava na praia. Caminhei sobre a areia por um bom tempo. O vento estava no ponto de eu ter que atar algo na cabeça para segurar os cabelos. Meu corpo exalava mar. Fiquei sentada observando as ondas quando me levantei para pular 7 delas em homenagem a Iemanjá. Como pedidos, gritava por paz e gratidão. Meu corpo exalava marijuana. Nas pequenas coisas, um riso tosco, de liberdade e luz. Era eu mesma ali. A própria. Sentada com a minha solidão onipresente. Finalizei a tarde tomando banho com as águas sagradas de Oxum. Meu corpo berrava "eu me entrego a ti, meu pai" enquanto lamentava mentalmente "encerra meus ciclos, me reconstrua, me des(conserta)". Era eu mesma. A própria.