terça-feira, 31 de outubro de 2023

Um até logo justo

Antes eu me imaginava andando ao teu lado sempre, 

em algum entardecer qualquer, nos bares, ouvindo o ritmo da cidade, 

eu sabia que não seria para sempre, 

mas se eu pudesse eu congelaria o tempo para ficar só com você

Antes eu corria para chegar cedo ao teu encontro, 

eu cantava a música que eu sabia que você gostava,

eu até fazia as (melhores, sim) piadas mais sem graça, 

porque você achava graça da minha graça

e ouvir a tua risada era a coisa mais linda desse mundo

e por falar em mundo,

eu espero que ele te abrace

eu desejo que ele te toque e que você siga tocando outras pessoas,

outros mundos, outras energias

que a sinergia dos teus encontros seja mágica

eu espero que o mundo te dê abrigo, quando tudo parecer abandono

desejo que te dê alento, quando você não tiver mais fôlego

sabe, eu tenho que confessar que eu muito me assusto

em perceber que esse é um até logo justo, para mim, para você

para onde vai o amor que a gente sente quando a gente simplesmente não pode mais deixar vingar?

se eu encontrar um espaço para alocar ele dentro de mim, eu te conto

eu posso até te mostrar, te dar a certeza que o que é pra sempre pode não perdurar no espaço-tempo, 

mas permanece infinito dentro de nós.



quinta-feira, 16 de março de 2023

Queda livre

Escrevo de um outro lugar. Um lugar com vistas altas, perto das nuvens, dos pássaros. Chegar até aqui foi difícil no começo - a persistência nunca foi o meu forte - mas algum caminho que eu percorri foi suficiente o bastante para estar aqui. Falo dessa vista alta porque a altura nunca foi algo que eu gostasse - me chama a atenção. Estar no alto me gera medo, insegurança, angústia. A queda livre é uma consequência certa, caso dê um passo em falso, e eu sou mestre em dar falsetes, modéstia parte. A liberdade de voar é o figurino da alma, que se costura na carne como um pássaro bate asas - estamos em busca disso, e queremos constantemente garantir que estejamos livres. Como uma corda bamba presa na altura, tu precisa contorcer o corpo e direcionar teus pés um em frente ao outro para poder andar. Teus braços formam uma asa, que segura e dá sustento. É preciso ser breve, mas cauteloso: sem movimentos bruscos, ou cai - mais uma vez - em queda livre. Os segundos que antecedem a queda são imprecisos mas fáceis de sentir no corpo. A respiração fica ofegante e o coração bate acelerado. Não podes controlar, é fisiológico. Te desesperas. O desespero é irracional. Quando surge, nos direciona para outros lugares que muitas vezes não conseguimos lidar sozinhos. É atravessado por um emaranhado de gatilhos e traumas de coisas dessa e de outras vidas. Nos boicota. Garante um espaço na nossa neblina da mente. É sufocante. Enquanto isso, tua queda continua, numa velocidade que aparentemente se manteve constante. Só cai. Não sentes mais nada, a adrenalina tomou conta do teu corpo. É sobre isso: não garanto minha constância, minha essência é de uma matriz romântica-abstrata, meio indie e sem filtros. Tem coisas que a gente não consegue controlar e está tudo bem. Façamos desse processo o menos doloroso possível. Enquanto cai, respira pela última vez e sente teu corpo adormecendo em paz. É tempo de naturalizar a queda e respeitar o teu processo de bater asas.