segunda-feira, 26 de março de 2012

Novos ventos

o sol que brilhava
algo queria me dizer
então eu, silenciosamente, suspirava
e o vento me dizia o que escrever

eu sentia as ondas do mar
cintilarem aos meus ouvidos com um sopro qualquer
e me escondia na tristeza de não encontrar
algo sem sentido que me fizesse me perder

então eu pensava
que o ar estava poluindo o que eu sentia
que a vida estava corroendo a minha vida
que eu não era o que eu queria ser

e de certa forma eu me contentava
com o ar puro que algo desconhecido
me permitia sentir o arrepio
de novos ventos a surgir.

terça-feira, 13 de março de 2012

Surgir

eu gosto de sumir
quando as ondas vem
e tudo que você enxerga
é a água se contorcendo
e gelando corpo adentro

e gosto de aparecer
numa ilha qualquer
ou no naufrágio dos dias
nas horas indevidas,
no cansaço ou sonolência do teu ser
quando menos esperas,
reaparecer.

domingo, 11 de março de 2012

Abstrato

ninguém precisa entender
o que minha poesia quer dizer
só preciso que leiam
para alimentar a minha sede
de transformar tudo que eu vejo
em um abstrato feito a quatro paredes.

Roteiro

o roteiro que a vida trilha
é um caminho sem direção definida
onde os ursos e raposas se escondem
atrás de arbustos e árvores na estrada.

quem escreveu essa história
conhece o desfecho
que os personagens viram pó
e algumas vezes se perde o enredo.

que os vilões vão viver
até a cartilagem da pele cair
que os ossos vão apodrecer
e que a vida passa por um triz.

quem escreveu essa história
não vive mais, mas continua sabendo
a hora certa de arrancar a página
e recomeçar outro parágrafo escrevendo.

Poema rasgado

O agudo da tua voz
combina tão bem com o rouco da minha
e não há estrela que duvide,
não há som que revide,
não há vida que julgue
o que só eu e você sabemos que existe
dentro do oceano que mergulhamos
dentro da pupila brilhante do meu poema rasgado.

Amo-te eu

Eu te amo e não é de hoje,
meus olhos entregam minha afeição
meu coração não canta qualquer canção
e eu sigo descobrindo meus caminhos.

Eu te amo e queria poder não despertar
dos sonhos que eu criei para te guardar
e não queria sair daqui, debaixo das árvores
nesse ar fresco que nos trás felicidade.

Eu te amo e não há rima que diga o quanto
não há poesia capaz de se igualar ao que eu sinto
não há vida que valha um momento só ao seu lado.

Eu te amo e não é de hoje, mas sim de sempre
e sei que meus olhos entregam através do brilho
e sei que tu vais trilhar o caminho que eu trilho.

sábado, 10 de março de 2012

Um olhar escondido

   A vida de Alicia era amargurada como a minha. E talvez eu devesse me calar ao invés de julgar a amargura da vida alheia, sabendo que a minha amargura é ainda pior, ou quem sabe, tentar encontrar justificativas das quais a vida das outras pessoas é amarga para que só assim eu consiga justificar a minha própria amargura. Se fosse simples, eu teria o feito.
Como se não bastasse ser amarga, Alicia ainda tinha que aguentar pessoas chatas e idiotas reclamando sobre o refrigerante que passou da validade ou o suco de saquinho que não diluía – tendo em vista que ela trabalhava em uma central de atendimento de três empresas conjuntas. Às vezes, ao invés de simplesmente atender a telefonemas, também tinha que ligar para oferecer brindes e pacotes promocionais, tendo que ser carismática o suficiente para que o cliente aceite a proposta precedida.
No entanto, ninguém jamais imaginara que por trás daquela garota amarga e estressada (com toda razão, é claro), havia uma grande pintora de rostos. Nas horas vagas ela saía de casa para encontrar mendigos, pessoas estranhas, drogados e qualquer face que pudesse vir a surgir um quadro bonito. E se curvava a cada pintura, olhando cada vez mais fundo nos olhares, testando cores e contrastes para que houvesse sintonia e harmonia em suas pinturas.  Embora ela quisesse expor mais alegria em seus trabalhos, raramente o conseguia. Alicia tinha uma obsessão por pessoas misteriosas e talvez seja por isso que suas pinturas quase sempre saíam estranhas.
Passado algum tempo sem pintar, seja por falta de vontade ou por fracasso emocional, Alicia resolveu procurar um circo em sua cidade, pois pensava que se ela fizesse a face de um palhaço sua pintura ficaria mais alegre e ela poderia ser reconhecida cada vez mais. E acabou encontrando o palhaço Xita, que aceitou a proposta de ser pintado.
Alicia não conseguia demonstrar nenhum tipo de emoção quando pintava. Algumas pessoas julgavam-na como louca, pois ela saía do mundo da realidade e entrava para o seu próprio mundo, da qual ninguém mais fazia parte. Poderiam cutucá-la, falar com ela, gritar em seus ouvidos que ela, ainda assim, ficava imóvel, apenas se concentrando na pintura que estava fazendo. Com o palhaço Xita não era diferente. Ela o mandou sentar em uma cadeira ao ar livre e pediu para que fizesse a expressão facial que quisesse. Ele logo sorriu, como todos os palhaços fazem.
Quem visse seu sorriso não imaginaria tamanha dor que dentro dele latejava peito adentro. Mas Alicia viu e sentiu, como se a dor fosse sua também. Raramente ela percebia o que se passava dentro de alguém.
Ao terminar a pintura, o pessoal do circo, amigos de Xita, estavam ansiosos para ver como a pintura havia ficado, mas Alicia não deixou ninguém ver e pediu para que todos eles a deixassem a sós com Xita.  Foi então que tudo parou. Alicia pegou na mão de Xita e disse o quanto sente muito pela morte de seu filho. Xita ficou perplexo, pois não esperava que ao invés de mostrar-lo o quadro, Alicia se lamentasse por uma coisa que ele não havia contado à ela e muito menos a ninguém. Ela percebeu a dúvida no ar e mostrou a pintura à Xita, que pôs-se a chorar. Ele esbanjou toda sua dor e gritou enlouquecidamente o que sentia.  Todos os seus amigos que antes se perguntavam por que tamanho escândalo, ao verem a pintura perceberam que o retrato de Xita era um palhaço chorando, embora sua expressão facial ao ser pintado foi um sorriso de orelha à orelha.
            Alicia se retirou do local, levando o quadro consigo e apenas uma resposta: não se pode esconder o que os olhos entregam, nem tentar sufocar a própria dor no peito.  A resposta sempre estará no olhar.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Ela

Foi quando olhei pra ela e disse que havia achado o grande amor da minha vida. E disse tantas outras coisas que agora não me vem à cabeça, mas que circulam em roda dos meus pensamentos o tempo todo, repetindo constantemente aquilo que eu realmente não sei o que é. Desesperadamente corro vida afora. Vejo o tempo depressa passar e a cada suspiro do vento uivante, me desafio a enfrentar qualquer coisa que se possa imaginar impossível, desde que isso prove à ela o quanto é irresístivel pensar em suas pupilas pretas e grandes, em seus olhos esverdeados que me confudem, nas suas mãos repletas de gestos surpreendentes e quentes, em seu pescoço que se curva lentamente para chegar até a minha boca. E me ensino, nesses dias velozes, que a vida é uma eternidade que passa rápido, mas sempre intensificando os melhores momentos para que a memória que se acumule seja mais linda que ela, para que a história se torne mais interessante, para que as respostas sejam ditas e as verdades jamais escondidas. Sim, amar é encontrar nas palavras o poeta que se esconde nas entrelinhas, o mistério e a emoção que desencadeiam o verbo sentir.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Livro "Infinitamente Mulher"*


O Dia Internacional da Mulher promete ser muito especial em Santiago. No próximo dia 08 de março acontecerá mais uma edição do evento Mulher Nota Mil, promovido pelo Centro Materno Infantil. Desta vez, o evento será em frente da Estação do Conhecimento, a partir das 18h, e contará com diversas atrações: apresentações musicais, sorteio de brindes, corte de cabelo, verificação de pressão arterial, entrega do prêmio de Mulher Revelação e brincadeiras, com a participação de caravanas do interior e dos bairros. O ponto alto será o lançamento do livro "Infinitamente Mulher", produzido em parceria com a Casa do Poeta. A obra reúne 55 mulheres de Santiago que mostram seu talento literário, ajudando a divulgar a Terra dos Poetas. Todas elas serão agraciadas com o certificado de Mulher Nota 1.000.

Confira as 55 escritoras que estão participando do livro:
  • Aldorete Senhorinho Martins
  • Aline Souza de Souza
  • Amanda Benvegnu dos Santos
  • Ana Paula Milani
  • Ana Paula Sangói Campos
  • Ana Rauber
  • Andressa Vieira Obem
  • Angela Maria Genro
  • Angélica Erd
  • Antonia Nery Vanti
  • Arlete Cecília Tusi Cossentino
  • Arlete Gudolle Lopes
  • Ayda Bochi Brum
  • Camila Canterle Jornada
  • Camilla Cruz
  • Clarissa Guerra
  • Cláudia Inês Larre
  • Deise Pinto Marchezan
  • Delina Porto Guarize
  • Diessica Carlosso Boff
  • Eduarda da Silva Bittencout
  • Enadir Obregon Vielmo
  • Érica Bassin Fumaco
  • Erilaine Perez
  • Fátima Friedriczewski
  • Fernanda Alberti
  • Gabriela Alberti
  • Heloísa Flôres
  • Iára Marlene Mezetti
  • Ilma Bernardi
  • Indiara Silva
  • Janaína Almeida Vargas
  • Jocimari Lopes do Nascimento
  • Juliana Rigon
  • Lígia Rosso
  • Lilian Ferraz Zanella
  • Lise Fank
  • Louise Garcia Machado
  • Luana Almeida Teles
  • Luana Diello
  • Maiara Jantsch
  • Marla Gavioli Ramos
  • Marlene Brasil Brandão
  • Naíse Munhões Quartieri
  • Nara Bachinski
  • Nathália Nunes Cogo
  • Nivia Andres
  • Nuraciara Xavier
  • Rozelaine Aparecida Martins
  • Sandra Ivaniski
  • Tais Cattelan Boff
  • Tassiane Kother do Canto
  • Tatiana Vier
  • Thays Stefanon Rodrigues
  • Therezinha Lucas Tusi
Além de Gisélle Ribeiro (Apresentação) Adriana Madrid (capa) e Tainã Steinmetz (diagramação).

O evento tem os seguintes parceiros: Hospital de Caridade de Santiago Uri-Campus Santiago, Hadassa- Escola e Estética, Casa do Poeta de Santiago, Emater Santiago, Ervateira São Gabriel, Viação Centro Oeste e Márcia Fontana- Site Beebop.

*Extraído do blog da Casa do Poeta de Santiago.